quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Epigrama nº 1

Eu sonhei que os nossos sentimentos entravam em ressonância 
Um ímpeto atingiu meu coração, senti uma ânsia
em lhe beijar, amar-te, em dançar a noite inteira,
inventar um amor, uma palavra, uma besteira. 

Eu queria navegar por noites incontáveis nesse sonho
mas é preciso despertar e perceber que o toque esvaiu-se
que este devaneio se desfez com o vento
e o que me restou foi esse manifesto, que eterniza um momento. 

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Ser

Ela tinha uma necessidade absurda de cuidar, de mimar, de amar, e nem precisava que fosse recíproco. Ela cuidava sem receber cuidados. Mimava sem ser mimada. Ela amava mesmo sem receber um pingo de amor. E não importava, porque tudo que ela precisava era ver os outros sorrirem, ela amava colecionar sorrisos alheios. 
Todas as noites ela pedia a Deus que cuidasse dele, que não deixasse que nada no mundo abalasse a sua felicidade e tirasse dele aquele sorriso. Ela gostava de sorrisos, sobretudo do dele. 
Ele era complicado, era mesmo, mas ela amava cada pontinho de complexidade que nele habitava. Ele se contradizia o tempo todo, mas só de vez em quando. Era o oposto, o invés, o revés dele mesmo. Ele era um anjo que infernizava a vida dela e ela adorava essa confusão. 
Ela o amava sim, e tinha uma vontade imensa de cuidar dele, de fazê-lo sorrir, de secar suas lágrimas se preciso fosse. Ela queria poder abraça-lo toda vez que ele dizia estar triste. Queria poder solucionar todos os problemas que o atormentavam. É que ela tinha uma mania louca de querer abraçar o mundo esquecendo que seus braços eram curtos demais. 
Ela gostava de se doar, porque cuidar dos outros era seu jeitinho de cuidar de si mesma. 
Ela gostava de amar, porque dentro do seu coração tinha amor para dar, doar e doer. Ela se importava com os outros, porque sempre sentira que sua missão era fazer os outros felizes. Ela aprendeu que para que outros pudessem sorrir, valia a pena chorar. Pra que outros pudessem ser salvos, valia a pena morrer um pouquinho. Tudo valia a pena se ela pudesse ser recompensada com sorrisos. Só isso, mais nada. 
Então ela ia cuidando, amando, se doando. Porque esse era o seu prazer. Essa era a sua paixão. Essa era a sua fórmula para ser feliz.
E o tal anjo que ela amava podia até não se importar com ela, o mundo podia até rir dela, os outros podiam até tentar derruba-la, mas nada disso importava, nada disso a atingia, porque ela tinha encontrado a força, o consolo, o amor e a felicidade naquEle que entendia de sofrimento mais do que ninguém. NaquEle que amou mais do que todo mundo. NaquEle que se doou e se doeu até por quem nem existia. E com Ele ela caminhava. O exemplo dEle ela seguia. Os Seus conselhos ela ouvia. E nos braços dEle ela se apoiava para que nada no mundo conseguisse derrubá-la. E Ele a segurava e dava esperanças, Ele a mantinha forte e feliz. E nEle ela aprendeu a ser uma só.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Há vida


O que é a vida além de sucessivos lapsos de memórias poéticas? 

Eu, enclausurado nesse mar assustador e incrível de imagens: 
- Já fui louco na insanidade do elogio; 
- Já me tornei imoral para emancipar-me; 
- Sou alguém que sabe que não sou tão bom, na cegueira do nosso coração; 
- Também apostei na maré branca que um dia mudará nossa visão; 
- Naveguei num mundo assombrado pelas pseudo-ciências e crédulos; 
- O horizonte de evento que me fez ver-me dois e o tempo não passou, aparentemente; 
- Presenciei o tempo ruim das famílias que são oprimidas pelo latifúndio; 
- Senti a peste abrir minhas feridas mais íntimas: podemos ser melhores em tempos de pestes. 
- Entendi a imagem final da metamorfose feminina: da adolescência para a mulher; 
- Chorei com a sensibilidade da primeira mulher que ocupou a ABL;
- Fui convencido, com argumentos simples e ricos, que a morte é a maior das liberdades; 
- Naveguei na estrada repleta de benzedrina. 
Sou e sou imagens, demasiadas imagens
nesse lampejo de memórias cheias de mensagens. 
Meu coração partido, descobriu as memórias poéticas
no putrefato Adeus que um dia, na mais brilhante das dialéticas
mostrou-me que não há cura. 
Há sorrisos. 
Há metamorfoses. 
Há prantos.
E, principalmente,
há vida.