quarta-feira, 26 de junho de 2013

Cegamos?


“Se podes olhar, vê.
Se podes ver, repara”.

E, por um deslize do destino, o mundo-sem-humanidade, deixou, como podemos ver, aqueles cujos olhos ainda processam imagens, ou podemos sentir, aqueles cujos olhos já não processam imagem, de caminhar para uma vida saudável e sustentável. Estes, conseguem adsorver o que há no âmago das coisas; o que há no âmago das pessoas e o que há no íntimo da nossa fauna e da nossa flora. Aqueles, ah, aqueles! Não conseguem sentir o prazer de consumir o que nos é de mais importante, apenas consomem para dizer o que o tem; não conseguem sentir a sensibilidade de um coração; e, o mais absurdo de todos os males da humanidade, o ser que habita o ápice da cadeia animal, não consegue usar os recursos naturais de maneira sustentável, e o mais colossal dos abismos: recursos os há suficientes, mas não para saciar sustentavelmente as vontades de todos que habitam um planeta sem âmbito. A ambição nos cegou?

O mundo-sem-humanidade caminha para a extinção de todas as espécies. A gana por acúmulo de papel-moeda já ganhou grande parte dos corações que cá habitam: do mais pobre àquele que com sua fortuna daria o que comer, diariamente, a todos os habitantes desse mundo tão esquisito e maravilhoso, ao mesmo tempo. Mas, como percebemos, cegos como os somos, a esquisitice sempre prevalece no dia-a-dia. Não generalizo, ainda há aqueles que pensam numa humanidade mais humana, ou em humanos com mais humanidade. Tanto o faz. Porém, é uma parcela ínfima da população, cujos gritos não fazem nem cócegas na barriga daqueles que estão morrendo de tanto comer e cujos gritos não saciam a fome daqueles que não tem sequer uma refeição diária. Estamos cegos?

O destino, pobre que é o destino, o qual une pessoas e através do qual destroça seres humanos. O destino o quis assim: aqueles que determinam a rota que o navio percorrerá são os mesmos que ainda podem ver os traços de abajures, de sofás, de estantes, de lápides, todos estes, no mais alto padrão, no mais alto cifrão. Consumindo-os sem pensar nas consequências, apenas enfeitando uma casa de quilômetros quadrado com peças dos mais altos padrões, pois, como nós sabemos, os cegos deveras, um ambiente que carece de calor humano, tem que ser completado com a frieza materialista. Estamos enxergando?  


A corrida é longa. Mas ela dará no mesmo lugar, sem exceção: um corpo putrefato, o qual, ao olfato daqueles que ainda vivem, tem um cheiro execrável. Não é um texto pessimista, é uma realidade nefasta, de caráter ignóbil. Uma mixórdia do lado mais horrendo do ser humano.

Estranha sensação de que o bem, na sua astronômica magnitude, perder-se-á para o ínfimo átomo do mal. Tempos em que enxergamos, mas não sentimos. 

terça-feira, 25 de junho de 2013

Lembranças silenciosas


- Vó?! - perguntei abrindo lentamente aquela porta de madeira rústica.
- Pode entrar, meu bem - sua voz suave e baixa vinha da cozinha.

Adentrei a sala, e logo fechei a porta.
Subitamente fui invadida por aquele aroma de café, laranja, e memórias. É assim a fragrância da casa de meus avós. Casa simples, para dois grandes corações. Meu avô não estava. Como de costume, ele jogava dominó com outros senhores na padaria após o almoço.
Caminhei até a cozinha, quando a encontrei. Ela estava secando a louça daquele almoço. Segurava um pano de prato azul turquesa, e guardava delicadamente as últimas peças lavadas no armário. Notei quando retirou uma panela que estava limpa do escorredor, e devolveu gentilmente para a pia. Não compreendi aquela ação.

- Mas essa panela não está limpa? - perguntei quando ela colocou o pano de prato em seu suporte de plástico, e começou a lavar novamente.
- Sim.
- E porque a senhora está lavando-a mais uma vez?
- Seu avô que lavou.. - sua voz era baixa, e não teve complemento.
- Mas, está limpa vó! - indaguei.
- Eu sei, mas ele não lava do jeito que gosto sabe.. Então sempre que ele sai para o dominó, eu lavo novamente as panelas.
- Mas vó.. ele sabe disso?!
- Claro que sim - disse ela em um meio sorriso, enxaguando cuidadosamente aquela panela.
- E o que ele faz a respeito?
- Bom.. ele não faz nada. Ele fica em silêncio - seus olhos se fecharam, e seu sorriso se tornou largo e suave.

Repentinamente percebi seu embarque. Ela não estava mais naquele espaço rodeado de talheres, xícaras e panelas. Havia embarcado em suas memórias, e a concedi aquela viagem. Assim como meu avô, eu silenciei. E me coloquei na ação de observa-la.
Ela lavava aquela panela lentamente, tomada por um sorriso bobo que cintilava a cozinha. E foi naquele momento que notei, era muito mais que um simples panela de arroz. Era a aceitação silenciosa da troca de um amor.

- É assim que vamos vivendo nossa vida, meu bem. É assim que o amarei para sempre - disse-me por fim, desabafando todo o afeto.
- Sim, vó. Alguns silêncios gritam, outros ensurdecem, outros amam e preenchem a eternidade. Meio frio, meio vago, meio mudo, ele fala a todo o momento. Porque afinal, o silêncio é apenas uma partícula que concerne o infinito.

Agora quem estava embarcando em questionamentos era eu, e ela me concedeu aquele embarque. Inspirei o cheiro suave do bolo de laranja junto com os fragmentos de memória, e emudeci minha voz para subitamente exprimir dentro em mim, o eco de minh'alma. 

sábado, 22 de junho de 2013

Teus olhos castanhos e grandes e confusos


Contemplo aqueles olhos castanhos e grandes e confusos. Questiono-me, o que há de ser? O que há de ser de nós? O que há de ser dessa livre humanidade que caminha sobre correntes incertas? O que há desse singular que se encaixa perfeitamente no plural?

- Já se pegou em tais indagações, vagando por tais universos? Preso em perguntas que possuem respostas próximas a loucura? -

É este meu mundo. É essa minha vida. Um quê eloquente amarrado a um por de romance. Um desespero flácido, inconstante, que traduz em linhas os pensamentos tortuosos de meu ser.

Mas volto-me aos olhos castanhos e grandes e confusos. São eles, o início de tudo, são eles que me levam a tais ruas-pensativas-e-desoladas. Estes dois olhos ambíguos que sugam cada força de minha egocêntrica alma e acabam por me levar a um lugar onde tudo que habita são dois. Duas luas, dois rios, dois segredos, duas vidas. Nossas duas vidas. Nossas. Pois para que uma vida se tornasse, antes de tudo, foram-se necessárias duas vidas, a minha, a tua, e por fim, a nossa. Talvez fosse necessário mais de duas, mas por enquanto as nossas bastam. São suficientes as dores e as alegrias que circulam nossa existência. Nossa simples existência, se não fosse por teus olhos castanhos e grandes e confusos que transformam o comum ao raro. Estes olhos que delineiam os meus dias, as minhas noites e perseguem cada página que folheio. São estes olhos que me causam uma insônia que transborda em um sonho sem fim.

Parece tão sem sentido, que apenas olhos castanhos e grandes e confusos respondam a um mar infinito de perguntas. Olhos que marejam diariamente um oceano de exclamações enquanto os admiro silenciosamente sentado a sua frente, numa pose discreta que indica o quanto teus olhos são mais fortes que teu sorriso vago.

– O que há de ser? – perguntam-me inúmeras vezes esses teus olhos. - O que há de ser? De tudo, de nós, dos muitos, dos únicos, dos tais? O que há de ser?
Balbucio. – Há de ser amor. – Há de ser amor, doce, quente, insano, mas amor. – Que outra coisa seria se não amor? Algo que captura meus dias e me transportam para a noite de teus olhos castanhos e grandes e confusos.



Texto escrito por Laura. Sorocaba - São Paulo

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Sabe-se-lá-o-nome


Passa-se no país sabe-se-lá-o-nome. Um ambiente inóspito, execrável e poluído, por sombras de ações inescrupulosas. Sombras estas passadas e atuais. A colonização no país sabe-se-lá-o-nome teve consequências drásticas, as quais ainda pairam sobre o ar denso deste presente país. Não se chamava país sabe-se-lá-o-nome. A cultura era uma miscelânea de opiniões. Atritos ocorriam por choques culturais; agora, atritos ocorrem devido à discrepância de renda que formam a hierarquia desumana do país sabe-se-lá-o-nome. Mas nada que possa ser comparado com o roubo feito pelo país-distante. Destruições naturais, imposições naturais, escambo, etc. Após o país-sem-um-nome ter sido saqueado, chamou-se, então, de país sabe-se-lá-o-nome.

Após o país sabe-se-lá-o-nome ter sido saqueado e roubado, os livros de histórias rotulam essa incrível façanha de descobrimento. Nestes mesmos livros trazem toda a história política pela qual o país sabe-se-lá-o-nome passou: desde Monarquia à ditadura; desde ditadura à “democracia”.

O país sabe-se-lá-o-nome sempre fora conhecido pelo seu acolhimento: um povo hospedeiro. Um povo extremamente pacífico, pois, notícias não faltam de desperdício de dinheiro público, de escolas sucateadas, de hospitais com enfermos jogados pelos chãos, à espera de um atendimento, o qual, muitas vezes não virá. O país sabe-se-lá-o-nome  é composto por uma minoria dominante, egoísta e extremamente conservadora; e uma massa sentenciada à reclusão material e intelectual. Esta breve descrição do país sabe-se-lá-o-nome foi feita para deixar, você, meu leitor, a par da situação na qual se encontra este presente país.

Um dia, o povo hospedeiro e inerte, decidiu-se, devido à ilegitimidade do acréscimo na tarifa do transporte público, o qual é controlado por empresas privadas, sair às ruas. A última gotícula de água que faltava para a água do recipiente transbordar e se alastrar em demasiadas raízes.

Às ruas estão o povo, do país sabe-se-lá-o-nome, gritando em uníssono. E este eco, entalado na garganta de muitos que habitam este país, está se alastrando país adentro e afora. Revogação do aumento. Melhorias na educação. Melhorias na saúde. Qualidade de vida. É um momento marcante para o país sabe-se-lá-o-nome. Uma emoção toma conta dos corações que até então estavam enegrecidos. O povo marcha, até o presente momento, querendo que as suas vozes sejam ouvidas pacificamente.


O que sucederá ao país sabe-se-lá-o-nome? Caro leitor, ninguém o sabe. Talvez num futuro distante alguém lerá está crônica e continuará a escrevê-la. Espero (mesmo sem acreditar) que a continuação seja uma ponte, não um muro exorbitante e protegido por forças opressoras. Às ruas, neste presente ano, o povo do país sabe-se-lá-o-nome, estão reivindicando melhorias para o seu país. Avante! 

terça-feira, 18 de junho de 2013

Emancipação

Não sei em que dado momento embarquei em minhas utopias. Talvez estivesse lentamente adormecendo, ou adentrando em meus devaneios. Encontrava-me em um sonho, um mundo paralelo. Quando repentinamente, o filme começou.

O Sol se recolhia, e se despedia lentamente daquele entardecer. Naquela rua carros e ônibus não passavam. Porém o local estava tomado. Inusitadamente por pessoas, que resolveram sair de seu conforto para aquela caminhada, naquele mesmo dia. Eram jovens, adultos, idosos, que expandiam aquele local se fazendo ouvir. O receio em seus olhares eram frequentes, encaravam uns aos outros. Policias também eram visíveis. Mas aquilo era apenas um detalhe. Eles continuavam a caminhar. Desbravando e libertando seus ideais.

A filmagem escureceu. Estava em outro espaço.

A mídia fora descoberta, e sua alienação em massa começou a corroer. Jovens se mobilizavam a relatar minuciosamente o que acontecia. Pregavam a veracidade. A rede social se tornou um lugar de expressão. Fotos, vídeos, progresso. Sites de peso, começaram a ser invadidos. A informação estava sendo circulada. Não era apenas uma rua. Era um estado. Vários estados. Aqueles sonâmbulos foram despertados, pelo grito contido que vinha clamando por manifestação.

Novamente, tudo escureceu.

Advogados ofereciam de forma filantrópica seus serviços para aqueles que fossem reprimidos violentamente. Gráficas se motivaram a colorir aquele cenário. Postos de ajuda estavam centralizados de forma estratégica. Alguém oferecia o sinal de Wifi, e energia elétrica para aqueles que necessitavam de carga eletrônica. Uma janela de apartamento foi cedida para transmissão ao vivo. Os fatos refletiam mundo afora. O sentimento havia se propagado. A rede do conformismo, não estava tão confortável assim. O cenário manipulado, começou a se impor.

Eles gritavam. Não havia diferenciação entre eles.
Eles gritavam. Em voz forte, unissonante.
Eles gritavam. Algo me atraia para fora.
Eles gritavam..

Eu acordei.

Fui levada pelo meus instintos. Certas reminiscências ainda ecoavam. O grito repercutia em meu interior. Caminhei para a janela, quando ceticamente meus olhos encontraram aqueles que estavam desbravando suas ideologias. Abri a janela prematura da revolução.

Estava acontecendo.
Está acontecendo! Tudo isso, todos os detalhes são reais. Rente meus/seus/nossos olhos. Não é nenhum sonho, e tão pouco "mundo paralelo". São milhares de pessoas que abdicaram a comunhão conformista, para juntas pregarem um novo amanhã. São milhares de pessoas que escolheram a força de expressão - e sobretudo a veracidade - como forma de aniquilamento as correntes do Governo. O despertar há de chegar para todos. E quando chegar, o livro da História Brasileira será atualizado. E ninguém poderá revogar: não existe impossível, para aqueles que ousam sonhar.
  

segunda-feira, 17 de junho de 2013

A magia de um sonho real

Ontem eu cantava e sonhava, 
eu imaginava e chorava, 
mas nada se concretizava.
Um mundo melhor era só uma utopia, 
O brado retumbante do tal povo heroico era apenas ilusório.
Ordem e progresso era só uma frase, não uma sina. 
O Brasil sempre fora de um povo acomodado e inglório.
Em meus textos escritos eu depositava a desesperada esperança de que o povo ia acordar.
Mas o despertar do povo era apenas poético e quase impossível de se realizar.
Ontem eu estava perdendo a confiança, 
perdendo a esperança, 
desistindo de acreditar.
Estava sendo vencida pelo cansaço, 
estava cansada de me decepcionar.
Sentia vergonha de viver em uma país que não fazia jus ao seu hino e a sua história.
Um país que não valorizava seus heróis do passado, na ditadura exilados e mortos com glória.
Hoje eu continuo cantando e sonhando.
Imaginando e chorando.
Mas estou vendo tudo se concretizando.
O cenário atual é um sonho real.
A revolução é verdadeira. 
Hoje sinto orgulho dessa gente brasileira!
O despertar foi geral, 
todos enfim podem enxergar.
A união foi nacional, 
todos enfim começaram a lutar.
O Sol da liberdade em raios fulgidos está brilhando no céu da pátria nesse instante.
Hoje o povo brasileiro merece aplausos por seus manifestos constantes.
Hoje tenho esperança de conquistar o penhor da igualdade, 
pois os braços fortes estão lutando por uma nova realidade.
Minhas rimas são pobres perto da riqueza dessa revolução.
Estamos rumo a ordem e ao progresso, lutando pela nossa nação.
Somos filhos honrados da pátria amada, idolatrada.
Estamos caminhando e cantando felizes por essa estrada.
Estamos fazendo jus a nossa conquistada democracia.
Lutando por cada direito que a constituição prometia.
Nos deparamos com uma ditadura camuflada,
mas é questão de tempo para o povo derrubá-la.
Estamos conquistando um espaço nosso nessa decadência.
Juntos iremos erguer o Brasil e libertar nossa essência.
Imortalizo aqui minha alegria transbordando em meras palavras escritas.
Deposito aqui meus sorrisos por poder crer novamente na vida.
Que venham exércitos, tropas, canhões.
Nossa força é maior e enfim está centrada em multidões.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

O começo de uma vida

Era uma quarta-feira fria de junho, dia dos namorados e ele surpreendera-me co a notícia de que me faria uma surpresa. Hesitei. Ele nunca fora de tais cerimônias, era um homem objetivo e direto, não fazia voltas para dizer do que precisava. "Mas hoje é um dia especial" disse ele, abrindo aquele sorriso de dentes tortos tão encantador, seus olhos brilhavam com tanta animação. Naquele mesmo dia ordenou que eu fizesse as malas para uma viagem de uma semana "Leve somente roupas de calor", falava com entusiasmo. À meia-noite embarcávamos em um avião, de Curitiba rumo a um destino desconhecido por mim. A venda que colocara em meus olhos fez com que eu dormisse logo.
"Bom dia meu coração, chegamos a nosso destino" sussurrava em meu ouvido para acordar-me. Depois de alguns minutos chegamos em uma pequena e simpática pousada em meio à natureza. Observei suas sacadas enfeitadas com cadeiras de balanço e sinos de vento, havia um pequeno jardim no meio do terreno, cujas flores eram coloridas e bem cuidadas, haviam ali tulipas e rosas -as flores do amor-. Uma simpática senhora de meia idade nos encaminhou até o quarto e poucas horas depois de termos descansado, apoiei-me na sacada e me pus a observar aquela linda paisagem, poluída de tanto verde, quando de súbito, ele me abraçou e me deu um beijo no pescoço, quase como um convite "Venha comigo!". Colocou a venda novamente em meus olhos e por uma estrada de cascalhos andamos lentamente enquanto os pássaros a nossa volta cantavam com alegria. Ao longe, ouvi o som das águas, caindo de algum lugar.
Enquanto andávamos o som se tornava mais alto e estridente, meus pés tocavam um chão macio, quando finalmente ele tirou as vendas de meus olhos descobri que estávamos em uma praia. Linda e quase deserta. Quase, pois podíamos ver ao longe os barcos dos pescadores.
"Bem vinda à Búzios" ele gritou alto. Estávamos no Rio de Janeiro.
Não pude me conter de tanta alegria e joguei-me, sem pensar duas vezes, naquele mas de águas límpidas. Ficamos ali nos curtindo por algum tempo, meus dedos estavam enrugados quando voltamos à pousada.
No dia seguinte, acordamos juntamente com o sol e fui levada até a praia novamente onde um barco nos aguardava. Depois de algum tempo em alto mar, vestimos roupas de mergulho e fomos fazer uma visita aos peixes, coloridos, pequenos e grandes. Avistamos corais de todos os tamanhos e cores, golfinhos nadaram ao nosso lado e antes de voltarmos ao barco avistei, vindo da superfície, uma caixinha vermelha.
Olhei em seus olhos e ali, no fundo do mar, na companhia dos animais mais encantadores do mundo, ele abriu a caixinha vermelha e ali estava um anel de tamanha beleza que meu coração por um instante parou. Fiquei intacta, não acreditava que finalmente ele tomara a iniciativa de passar o resto de sua vida ao meu lado. Se passaram alguns minutos enquanto minha cabeça rodava e rodava, ele esperava aflito uma resposta. Balancei minha cabeça em sinal afirmativo e no mesmo instante, como se um tivesse lido o pensamento do outro, tiramos as máscaras de oxigênio e por mais difícil que fora, bem pelo menos tentamos nos beijar. Hoje me lembro com um enorme sorriso no rosto, fora engraçado, quase nos afogamos aquele dia, nos casamos nove meses depois e estamos juntos a 58 anos, temos cinco filhos e uma penca de netos e bisnetos. O final dessa história vocês já sabem.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Amor Incondicional

Se eu pudesse pedir algo com toda certeza seria uma dose de amor no café-da-manhã-, no almoço e no jantar. O que pode ser melhor do que estar bêbada de amor?
Uma dose de amor para aqueles que não sabem amar, para as pessoas que dormem ao relento, para os casais que se divorciam por desistirem do amor, por desistirem um do outro se esquecendo da santa frase: - Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte nos separe!
O amor... O que será o amor? Por que diabos nós sentimos algo tão forte por alguém e choramos pelo mesmo? Será que algum ser humano é importante a ponto de merecer as nossas lágrimas quando nos decepcionamos, e as nossas alegrias?
Certa vez pensei ter encontrado o amor. Mas me decepcionei como pensei que me decepcionaria, eu já esperava, só não pensei que seria tão doído. Filmes pra lá, brigadeiros pra cá, lágrimas e mais lágrimas, e assim foi.
Quando menos esperei, outra pessoa apareceu e a cena se repetiu. Eu pensei em desistir, mas eu seria uma fraca se deixasse de amar e de querer ser amada, pois sei que em algum lugar do mundo há alguém me procurando, me amando - mesmo sem saber-, ô se há.
Eu não poderia dar-me por vencida, o amor não é um bicho de sete cabeças – e se esse bicho existe, com toda certeza ele nunca deu uma provadinha no amor, não o conhece, não faz a mínima ideia de como é se sentir amado, de ver alguém sorrindo por te ver e te beijando, se entregando e mais do que tudo: Amando-te -.
O amor é amar a si próprio antes de qualquer coisa, amor físico, amor platônico, amor materno, amor à vida. Amor e mais amor.
O mundo seria outro se o mais importante fosse o amor e não o dinheiro, porque infelizmente alguns pensam que dinheiro pode comprar tudo, se esquecendo de que nada jamais substituirá e comprará o amor!
O que será da futura geração? Eles nasceram ligados na tecnologia, no mundinho virtual. E quanto ao manual? Eles não terão o prazer de plantar uma mudinha de alguma flor qualquer, até porque eles não se importaram, e a vida será uma grande ilusão, eu temo pelo que está por vir, temo pelos meus filhos, meus netos, meus futuros bisnetos e assim por diante.
Eu espero que o amor não morra, e tenho certeza de que não irá morrer, sempre haverá alguém querendo prová-lo. Espero também que todas as pessoas aprendam a amar para serem amado, jamais se esquecendo de que, o amor é a base de tudo.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Reduzir a maioridade penal?


De tempos em tempos nos deparamos com notícias nas quais menores de idade estão cometendo um delito – por exemplo: um latrocínio -, e a pergunta que mais paira na mente das pessoas é: devemos reduzir a maioridade penal – a qual, hoje, são de 18 anos para 16 anos?
Os argumentos usados pelos defensores da redução da maioridade penal – os quais eu refuto até as vírgulas e os pontos finais, mais adiante explicarei o por quê – são que jovens com dezesseis anos estão conscientes dos seus atos. Usam argumentos infantis como: se adolescentes de dezesseis anos podem votar, por que não podem responder por seus delitos como adultos? (Nem um adulto “racional” vota de maneira consciente, por conseguinte, é um argumento egoísta e sem sentindo). Outro argumento usado comumente pelos defensores é que o medo à punição mais rigorosa diminuiria a iminência de um adolescente cometer um delito – ilusão! Poderia listar vários argumentos, mas listarei mais um, pois são os que mais são usados. No calor da emoção de uma vida perdida, geralmente, os favoráveis a redução da maioridade penal, acreditam que encarceramento diminui o índice de violência – mais uma vez, ilusão!
Este breve relado acima dos argumentos usados pelos defensores da redução da maioridade penal foi para ater-nos às seguintes perguntas:
a-) Os adolescentes que estão cometendo esses delitos  são oriundos de qual estrutura social?
b-) Os adolescentes que estão cometendo esses delitos têm medo de uma punição mais rigorosa?
c-)Os adolescentes que estão cometendo esses delitos melhorarão se forem encarcerados?
d-)Por que esses adolescentes pegam em armas e cometem delitos?
Tentarei responder às questões acima sucintamente. As escolas sucateadas, a educação pública de péssima qualidade, o ambiente altamente inóspito ao qual os adolescentes infratores e os não infratores estão vivendo, a estrutura familiar, o contato, desde o útero materno com a criminalidade e a sociedade do espetáculo – egoísta, consumista e colecionadora de papel moeda – à qual os adolescentes infratores e os não infratores estão conectados, mostra-nos que reduzir a maioridade penal não é a solução para o problema da violência.
O Brasil está entre os dez países com concentração renda acumulada nas mãos de uma minoria parasita, sem senso de igualdade, que assassina fria e lentamente milhares de brasileiros – aqui vale salientar que a estrutura social à qual esses adolescentes infratores pertencem não é das melhores para viver-se em harmonia e ter um bem-estar . A educação de má qualidade já se tornou um clichê na boca dos brasileiros: escolas sucateadas, sem professores, e quando os têm, são mal remunerados, verbas de merenda, material escolar, entre outras, sendo desviadas para contas bancárias de engravatados safados –estes mesmos que defendem a redução da maioridade penal- em paraísos fiscais.
Infelizmente os potenciais adolescentes assassinos são oriundos dos bairros mais pobres das grandes cidades. Muitos deles convivem com a lei implacável do crime, que todos nós sabemos, não perdoa nem a dívida de R$0,50 de outrem. Assim sendo, o medo à punição mais rigorosa fará diminuir a criminalidade e, por conseguinte, tirar da mão de um adolescente uma arma? É óbvio que não. E além do mais, o sistema carcerário do Brasil é falido. O encarceramento não resolve o problema quando, após o cumprimento da pena, a pessoa que ganhou a liberdade se depara com as mesmas condições pré-encarceramento: desigualdade social, portas fechadas por causa da cor da pele, das vestimentas e do lugar onde reside, e um passado que a sociedade, mesmo após o cumprimento da pena, nunca esquecerá. O mais óbvio que concluímos, que mesmo após anos de reclusão, à volta para a vida no crime é apenas questão de tempo.
Arrisco dizer que a vontade alienada por consumo, por acúmulo de papel moeda, por ascensão “social”, também são causas para as quais temos que olhar criticamente. Por quê? Porque um adolescente não sai matando outro adolescente para ter a mãe deste lhe dando carinho materno.  Sai matando porque precisa de dinheiro, porque muitas portas foram fechadas – motivos que já aleguei acima -, porque o estômago não está saciado, porque as propagandas de videogame são constantes em suas vidas, entre outros.
Diminuir a maioridade penal – de 18 para 16 anos – não resolve o problema da violência. Como Pitágoras salientou, Educai as crianças, para que não seja necessário punir os adultos. O que resolve o problema é a distribuição de renda de maneira justa. O que resolve o problema é acesso universal e irrestrito à educação de excelente qualidade. O que resolve o problema é transformar a nossa atual sociedade.
Deixarei uma dúvida, para você, benévolo leitor, analisar: é de interesse privado que o governo invista na educação pública, para que assim, todos os brasileiros tenham as mesmas oportunidades, independente da cor, situação financeira e vestimentas? É de interesse privado que o governo reduza a maioridade penal, para que assim empresários safados, empreiteiras inescrupulosas e políticos corruptos, aumentem suas contas bancárias? 

terça-feira, 11 de junho de 2013

Conformistas em comunhão

Entre cores e dores prevalece a atenção
Daquele menino sentado na calçada, que colocou-se a enxergar
A rapidez daqueles que passaram sem histórias para contar.

Os homens tem pressa, dessa pressa que não sei
Vivem para o futuro, para o dinheiro, e sem nenhuma lei
embebedam-se de seu licor da ostentação.

A mesquinharia os fizeram refém,
o preconceito os cegaram
Desses detalhes que ainda não vêem,
da ética que tanto falam.

Filhos da indiferença
Pobres por nascença
Conformistas em comunhão

Silêncio que ecoa,
da Terra que os abençoa:
"Povo Heróico" sem ação.

Talvez, a melodia regida entre "vivos-falecidos"
poderá um dia, ser retumbante em uníssono?
O menino espera por esse feito. 

Em seus sonhos abstratos e suas utopias resguardadas,
ele nutre a coragem da ambiguidade interior
Porque em guerra de dúvidas, apenas ele é o vencedor.

Ôh Pátria Amada, envolva seus filhos de bravura
Não os deixe levar pela labuta
Porque aqui, o sentir é escasso.

Ôh Pátria Amada, eu não quero sonhar só
Me sinto tão singular ao idealizar,
a revolução em compasso.

Se tu és mesmo, Mãe Gentil
não abandona o sonhar de vossos filhos,
vezes descrentes desse Brasil.

Se tu és mesmo, Mãe
dê a eles o semear
Pois não há nada mais infame do que perecer,
sem nada para contar.


segunda-feira, 10 de junho de 2013

Um coração brasileiro cheio de sonhos

Garota do coração corajoso e mente rebelde, ela sempre fora assim. Tinha o peito cheio de coragem e a mente repleta de indignações.
Era apegada às impossibilidades, porque na dimensão em que seu coração se encontrava tudo parecia possível. Dimensão essa que tinha como nome "O Mundo dos Sonhos" e constantemente seu coração se hospedava lá. Temia o dia em que ele se mudasse de vez e esquecesse de concretizar todas aquelas ideologias e expectativas que ela havia criado com a sua mente, mas depositado naquele coraçãozinho bobo que sempre era capaz de acreditar mais uma vez, aquele coraçãozinho que bombeava esperança.
Uma tola revolucionária sonhadora, era o que todos diziam. Sonhava que ia conseguir mudar o mundo, por mais que o mundo constantemente tentasse tirar dela essa coragem.
Criava estratégias políticas esperando ansiosamente pelo dia que completasse seus 18 anos e enfim pudesse mergulhar de corpo e alma naquele mar de imundice que ela sonhava em tratar. Ela tinha esperanças que aquele mar contaminado por vermes um dia seria límpido, cristalino.
Ouvia Geraldo Vandré de alma aberta, deixando cada palavrinha habitar seu interior: "Vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer." E desejava não ficar parada, desejava agir, desejava fazer acontecer de uma vez por todas. Mas ela era uma em um milhão, ela se sentia impotente.
"Que país é esse onde até mesmo o Hino Nacional parece só um sonho?" ela constantemente se perguntava.
Ela ainda esperava pelo brado retumbante daquele tal povo heroico. Ela se perguntava quando o tal Sol da liberdade em raios fúlgidos brilharia no céu da pátria, quebrando os grilhões da escravidão criados pelo sistema. Quando finalmente aquele povo desejaria conquistar a igualdade com braços fortes. Meras ilusões. O sonho intenso, o raio vívido, o amor e a esperança existiam apenas em seu coraçãozinho sonhador.
Ela era uma brasileira nada comum, nada satisfeita com a sua pátria.
Vivia na Terra adorada, como mãe gentil denominada, que tinha como filhos pessoas ingratas e constantemente era desonrada. Filhos que deitavam no berço do comodismo e da conformidade, que fizeram do ontem um passado sem glórias e do hoje um presente sem paz.
E então, ela se revoltava e sonhava junto com Raul, esperava pelo dia em que a Terra pararia ou simplesmente desejava encontrar com a morte vestida de cetim.
Depois cantava com  Paulo Ricardo como um pedido a sociedade: "Toquem o meu coração, façam a revolução!"
E era nesses momentos, abraçada mentalmente com seus ídolos da música, tão brasileiros quanto ela, que ela enfim não se sentia tão sozinha, tão deslocada no país em que vivia.
Dormia com todos aqueles sonhos em sua mente e vez ou outra sonhava com o paraíso dos inconformados, um paraíso que ela sabia que não existia.
E então ela imaginava que um dia, quem sabe, ela iria se ajoelhar diante do Cristo Redentor e pediria redenção para aquele povo cego e ignorante, que vivia na escuridão e não desejava acender a luz da realidade.
Ou afogaria todo o seu conhecimento nas Cataratas do Iguaçu para quem sabe assim ela pudesse viver feliz abraçada a sua ignorância.

O que ela sabia era que seus sonhos eram intensos e que ela era uma patriota declarada, amava sua Terra, amava toda aquela riqueza natural que pertencia a esse país chamado Brasil. Amava a literatura brasileira e os grandes gênios da música que viveram aqui. E esperava que um dia a minoria que desejava o mesmo que ela se unisse. Porque ela sabia que um povo unido era capaz de vencer um exército com canhões. Ela acreditava que um povo inteligente conseguiria enfim dar um basta na corrupção. Ela acreditava que um dia seu país seria o seu Mundo dos Sonhos real e enfim seu coração poderia descansar sem tem que voar para tão longe e se hospedar em outra dimensão.

sábado, 8 de junho de 2013

Queria estar curado, só queria

Estamos longe um do outro separados pelo Atlântico, o mais quente que consegui chegar aqui neste lugar chegou à 12º C, o lençol felpudo verde que me aquece parece inútil, o que ainda conforta é o teu doce cheiro, posso senti-lo a esta distância, sabe se já relataram algum caso em que o amor causou significativas melhoras no olfato?
Eu não. Eu percebo que perdi-me em meu amor, embebi-me em tua magia, doce amada, aqui o que me faz mais falta é ficar perto do mar, moro em um lugar que parece cena de cinema, paredes brancas, lá fora neve, mas não suave, aqui nada é suave, pedras de gelo imensas à beira da estrada, crianças empacotadas, embrulhadas pra presente marchando como pinguins, caminhonetes velhas, luzes, bebidas estranhas e ninguém pra amar, aqui todo mundo é frio.
Me disseram que novos ares me fariam bem, doce ilusão, eu só estaria bem feliz, e pra ser feliz, a minha princesa, única, exclusiva, dedicada precisaria estar comigo aqui na frente das câmeras, deitada nesse sofá branco, vestida com o seu melhor sorriso, em cenas sentimentais que dariam inveja à toda Hollywood.
Mas eu mereço esta solidão, eu mereço morrer aqui enclausurado, frio, sangrando por dentro, eu sempre tive sua beleza aos meus olhos, eu sempre vi, não enxerguei.
Eu sei, você tentou, obrigado. Eu que sempre arranjei um jeito hábil de te machucar, de te derramar lágrimas, de rejeitar teus carinhos mais puros, de esquecer que és e sempre será a minha princesa, a única quem posso amar, é seu meu último primeiro beijo.
E agora mergulhado em minha loucura, traço teias, monto dioramas mentais, nossas cenas, o desenlace dos fatos que proporcionaram tanto amor, detalhes, o seu batom vermelho, o que fazia quando eu matava as aulas de química pra beber vinhos vagabundos, tudo absolutamente programado pelo acaso pra nascer um grande amor.
A nossa despedida foi estarrecedora, o seu olhar espantado, as magoas desabando, porque diante do amor, os corações mais duros amolecem, porque diante do amor nada resta, nada importa, nada impede.
E eu já decidi, vou voltar, não simplesmente voltar, mas vou voltar pra te fazer a mais feliz do mundo.
                  - Netinho Soares já sofreu demais nessa vida, muito mais por amor, mas ainda restaram muralhas pra fazerem mais alguns @destrocos.

                                                                      (Convidado especial do Maranhão)

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Amor maternal ?

Era noite de lua nova, eu sentira a tensão na voz dela durante todo o final de semana, estava inquieta e parecia nervosa. Não me preocupei, não deveria ser algo grave. De todas as recaídas que a depressão traz, as piores já passaram, agora é só uma questão de tempo. Analisei suas reações durante o filme que assistíamos na tv, algo a incomodava. Acreditei que passaria em breve, me enganei.

Estava sentada em minha mesa, folheando um de meus livros favoritos, imersa naquele mar de ficção romântica , quando, de súbito, ela entrou no meu quarto, trancou a porta atrás de si e com agressividade puxou meus cabelos enquanto me tapeava. Gritava barbaridades em meu ouvido, que estremecia com o som agudo da sua voz. Estava acontecendo novamente e eu rezei para que meu pai tivesse uma cópia da chave, da última vez que isso acontecera as marcas de seus dedos ficaram em meus braços e pernas por muito tempo.

E não demorou para que ela começasse a me mostrar seu novo repertório de xingamentos "sua inútil, vagabunda, sua desgraçada, é por sua causa que não vou chegar na minha velhice, você está me matando" dizia ela. Senti o ardor de sua mão contra o meu rosto e as lágrimas, que lutavam para conter-se, escaparam de uma vez, com tamanha intensidade que deixei-me ser levada por soluços e suspiros, sentia meu corpo tremendo por inteiro, clamando por um pouco de paz.

Pareceram horas até meu pai conseguir abrir a porta e contê-la, já era tarde. O estrago estava feito, desta vez ela conseguiu me arranhar com tanta força que em meu peito se formavam enormes vergões e minha cabeça latejava, latejava que parecia que eu iria literalmente perder a cabeça.

Eu já deveria ter me acostumado com a ferida que ela causa quando me xinga e me agride, com a dor no peito de ouvir a minha própria mãe desejando-me somente o mal. Até hoje mergulho em meus pensamentos tentando entender o que de tão mal faço a ela, sempre fui boa aluna e sem pestanejar troquei minhas bonecas por detergente e vassoura, a casa estava limpa enquanto ela se tratava no hospício. Lembro-me de terem dito que apesar de ser uma criança sapeca eu tinha um coração muito bondoso e deveria preservá-lo assim.

Fui uma criança infeliz e sou uma mulher forte, apesar de tudo. Sempre supero todos os obstáculos que a vida coloca à minha frente, tento não me importar, mas é impossível. De todo mal que ela me causou posso dizer que a muito tempo não sei o que é ter mãe de verdade.

O que me resta é sentar aqui, na frente do meu computador e contar-lhes a minha história, acompanhada de lágrimas e sofrimento. Aguardar que um dia a vida tenha piedade de mim e a cure, de uma vez por todas.


quarta-feira, 5 de junho de 2013

Sintomas

Fora uma noite penosa. Os monstros que perambulavam pelas entranhas das minhas lembranças, resolveram, de uma única vez – primeiro sintoma de dor -, cruzar a porta para a realidade.

Estava em contato íntimo com a imensidão. Uma escuridão calorosa preenchia o meu enegrecido coração – primeiro sintoma de cura.

O cintilar das estrelas desenham no âmago da minha alma um jardim, cujas flores emanavam a redenção da primavera e no qual meu espírito irrequieto tomou uma dose anestésica de sabedoria: transformando-se em um espírito fleumático, solitário e deleitoso: no contato mais íntimo com as palavras, com a sabedoria e com a presença física nesse universo regido pelas vontades de estar só, havendo alguém lhe segurando a mão – segundo sintoma de cura.

Os monstros começaram a ganhar uma velocidade caótica. À medida que seus campos gravitacionais se aproximavam, minha existência começava a ganhar um ar pungente, devido à velocidade destruidora que eles ganhavam – segundo sintoma de dor.

Esse presente dualismo – dor e cura – atormentar-me-á até meu último suspiro; e através do qual vou traçando meu destino: dirigindo, caoticamente, pela estrada da sabedoria, na qual muitas vezes estarei em contato íntimo com as palavras. Contato este que muitas vezes será penoso, porém eu sei que a imensidão desenha minha redenção através das palavras, através da escrita que me queima a mão.

Eu não pertenço a mim. Pertenço às palavras que fluem pelas minhas veias e artérias, ora diminuindo o volume de oxigênio, ora aumentando o volume de oxigênio, fazendo-me existir. 


terça-feira, 4 de junho de 2013

Moço das Orquídeas

Naquele Sábado alaranjado ele apareceu. Adentrou apressadamente no vagão e minuciosamente comecei a observa-lo. Sentou-se ao lado posterior do trem, e numa total desarmonia batia sua mão em seu joelho esquerdo. Trajava calça jeans, camiseta azulada, gravata preta. E em sua mão segurava afetuosamente um buque. Um lindo e singelo buque de orquídeas brancas. Impacientemente ele olhou seu relógio, e colocou-se mais uma vez à melodia dissonante. Acrescentando agora, o barulho de seu pé ao chutar a planície daquele vagão.

Estaria angustiado pela possibilidade de uma resposta negativa, ou pelo próximo passo diante a aceitação de sua Donzela?

O Moço das Orquídeas e sua Donzela Perdida! Perdida em cicatrizes de um passado artificial, ela se privava do ardor. Copiosamente tornar-se-ia uma inocente na aptidão do sentir. Vivia para as lembranças, e subitamente transfigurava-se em suas cópias irreais.

Meus olhos que encaravam em devaneio o fundo do vagão pairou mais uma vez sobre ele, que naquele momento checava o bilhete contido em seu bolso. Cuidadosamente sua visão fitava o papel, contaminando-o com uma serenidade não visualizada anteriormente."Trago-lhe essas orquídeas e junto delas, entrego meu coração. Espero que possa de bom grado, cuidar e regar por quantas primaveras vierem.."

Durou um breve instante quando ele se posicionou à porta do trem, que rapidamente ao abrir, lhe convidava ao seu destino. "Boa sorte, Moço das Orquídeas" pensei esperançosa em um breve sorriso, ao enxergar as portas daquele vagão se atraindo. Lá se foi. Levando meus pensamentos, e suas Orquídeas.

Poderia escrever uma poesia sobre ele, um conto. Ou melhor, um livro. Poderia sim! Porém aquela história não me cabia, e tão pouco aquele personagem. Nada daquilo me pertencia.. apenas, o súbito desejo de ser sua Donzela Perdida.

"Prometo cuidar dessas pétalas murchas que em sentença rondam minha mente. Prometo lhe esperar até a próxima primavera naquele mesmo vagão, Moço ilusório das Orquídeas.."

Sinto o movimento do trem seguindo sua sina.
Sinto minhas utopias.