Garota do coração corajoso e mente rebelde, ela sempre fora
assim. Tinha o peito cheio de coragem e a mente repleta de indignações.
Era apegada às impossibilidades, porque na dimensão em que
seu coração se encontrava tudo parecia possível. Dimensão essa que tinha como
nome "O Mundo dos Sonhos" e constantemente seu coração se hospedava
lá. Temia o dia em que ele se mudasse de vez e esquecesse de concretizar todas
aquelas ideologias e expectativas que ela havia criado com a sua mente, mas
depositado naquele coraçãozinho bobo que sempre era capaz de acreditar mais uma
vez, aquele coraçãozinho que bombeava esperança.
Uma tola revolucionária sonhadora, era o que todos diziam.
Sonhava que ia conseguir mudar o mundo, por mais que o mundo constantemente
tentasse tirar dela essa coragem.
Criava estratégias políticas esperando ansiosamente pelo dia
que completasse seus 18 anos e enfim pudesse mergulhar de corpo e alma naquele
mar de imundice que ela sonhava em tratar. Ela tinha esperanças que aquele mar
contaminado por vermes um dia seria límpido, cristalino.
Ouvia Geraldo Vandré de alma aberta, deixando cada
palavrinha habitar seu interior: "Vem vamos embora que esperar não é
saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer." E desejava não ficar
parada, desejava agir, desejava fazer acontecer de uma vez por todas. Mas ela
era uma em um milhão, ela se sentia impotente.
"Que país é esse onde até mesmo o Hino Nacional parece
só um sonho?" ela constantemente se perguntava.
Ela ainda esperava pelo brado retumbante daquele tal povo
heroico. Ela se perguntava quando o tal Sol da liberdade em raios fúlgidos
brilharia no céu da pátria, quebrando os grilhões da escravidão criados pelo
sistema. Quando finalmente aquele povo desejaria conquistar a igualdade com
braços fortes. Meras ilusões. O sonho intenso, o raio vívido, o amor e a
esperança existiam apenas em seu coraçãozinho sonhador.
Ela era uma brasileira nada comum, nada satisfeita com a sua
pátria.
Vivia na Terra adorada, como mãe gentil denominada, que
tinha como filhos pessoas ingratas e constantemente era desonrada. Filhos que
deitavam no berço do comodismo e da conformidade, que fizeram do ontem um
passado sem glórias e do hoje um presente sem paz.
E então, ela se revoltava e sonhava junto com Raul, esperava
pelo dia em que a Terra pararia ou simplesmente desejava encontrar com a morte
vestida de cetim.
Depois cantava com
Paulo Ricardo como um pedido a sociedade: "Toquem o meu coração,
façam a revolução!"
E era nesses momentos, abraçada mentalmente com seus ídolos
da música, tão brasileiros quanto ela, que ela enfim não se sentia tão sozinha,
tão deslocada no país em que vivia.
Dormia com todos aqueles sonhos em sua mente e vez ou outra
sonhava com o paraíso dos inconformados, um paraíso que ela sabia que não
existia.
E então ela imaginava que um dia, quem sabe, ela iria se
ajoelhar diante do Cristo Redentor e pediria redenção para aquele povo cego e
ignorante, que vivia na escuridão e não desejava acender a luz da realidade.
Ou afogaria todo o seu conhecimento nas Cataratas
do Iguaçu para quem sabe assim ela pudesse viver feliz abraçada a sua
ignorância.
O que ela sabia era que seus sonhos eram intensos e que ela
era uma patriota declarada, amava sua Terra, amava toda aquela riqueza natural
que pertencia a esse país chamado Brasil. Amava a literatura brasileira e os
grandes gênios da música que viveram aqui. E esperava que um dia a minoria que
desejava o mesmo que ela se unisse. Porque ela sabia que um povo unido era
capaz de vencer um exército com canhões. Ela acreditava que um povo inteligente
conseguiria enfim dar um basta na corrupção. Ela acreditava que um dia seu país
seria o seu Mundo dos Sonhos real e enfim seu coração poderia descansar sem tem
que voar para tão longe e se hospedar em outra dimensão.
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