sexta-feira, 14 de junho de 2013

O começo de uma vida

Era uma quarta-feira fria de junho, dia dos namorados e ele surpreendera-me co a notícia de que me faria uma surpresa. Hesitei. Ele nunca fora de tais cerimônias, era um homem objetivo e direto, não fazia voltas para dizer do que precisava. "Mas hoje é um dia especial" disse ele, abrindo aquele sorriso de dentes tortos tão encantador, seus olhos brilhavam com tanta animação. Naquele mesmo dia ordenou que eu fizesse as malas para uma viagem de uma semana "Leve somente roupas de calor", falava com entusiasmo. À meia-noite embarcávamos em um avião, de Curitiba rumo a um destino desconhecido por mim. A venda que colocara em meus olhos fez com que eu dormisse logo.
"Bom dia meu coração, chegamos a nosso destino" sussurrava em meu ouvido para acordar-me. Depois de alguns minutos chegamos em uma pequena e simpática pousada em meio à natureza. Observei suas sacadas enfeitadas com cadeiras de balanço e sinos de vento, havia um pequeno jardim no meio do terreno, cujas flores eram coloridas e bem cuidadas, haviam ali tulipas e rosas -as flores do amor-. Uma simpática senhora de meia idade nos encaminhou até o quarto e poucas horas depois de termos descansado, apoiei-me na sacada e me pus a observar aquela linda paisagem, poluída de tanto verde, quando de súbito, ele me abraçou e me deu um beijo no pescoço, quase como um convite "Venha comigo!". Colocou a venda novamente em meus olhos e por uma estrada de cascalhos andamos lentamente enquanto os pássaros a nossa volta cantavam com alegria. Ao longe, ouvi o som das águas, caindo de algum lugar.
Enquanto andávamos o som se tornava mais alto e estridente, meus pés tocavam um chão macio, quando finalmente ele tirou as vendas de meus olhos descobri que estávamos em uma praia. Linda e quase deserta. Quase, pois podíamos ver ao longe os barcos dos pescadores.
"Bem vinda à Búzios" ele gritou alto. Estávamos no Rio de Janeiro.
Não pude me conter de tanta alegria e joguei-me, sem pensar duas vezes, naquele mas de águas límpidas. Ficamos ali nos curtindo por algum tempo, meus dedos estavam enrugados quando voltamos à pousada.
No dia seguinte, acordamos juntamente com o sol e fui levada até a praia novamente onde um barco nos aguardava. Depois de algum tempo em alto mar, vestimos roupas de mergulho e fomos fazer uma visita aos peixes, coloridos, pequenos e grandes. Avistamos corais de todos os tamanhos e cores, golfinhos nadaram ao nosso lado e antes de voltarmos ao barco avistei, vindo da superfície, uma caixinha vermelha.
Olhei em seus olhos e ali, no fundo do mar, na companhia dos animais mais encantadores do mundo, ele abriu a caixinha vermelha e ali estava um anel de tamanha beleza que meu coração por um instante parou. Fiquei intacta, não acreditava que finalmente ele tomara a iniciativa de passar o resto de sua vida ao meu lado. Se passaram alguns minutos enquanto minha cabeça rodava e rodava, ele esperava aflito uma resposta. Balancei minha cabeça em sinal afirmativo e no mesmo instante, como se um tivesse lido o pensamento do outro, tiramos as máscaras de oxigênio e por mais difícil que fora, bem pelo menos tentamos nos beijar. Hoje me lembro com um enorme sorriso no rosto, fora engraçado, quase nos afogamos aquele dia, nos casamos nove meses depois e estamos juntos a 58 anos, temos cinco filhos e uma penca de netos e bisnetos. O final dessa história vocês já sabem.

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