quarta-feira, 5 de junho de 2013

Sintomas

Fora uma noite penosa. Os monstros que perambulavam pelas entranhas das minhas lembranças, resolveram, de uma única vez – primeiro sintoma de dor -, cruzar a porta para a realidade.

Estava em contato íntimo com a imensidão. Uma escuridão calorosa preenchia o meu enegrecido coração – primeiro sintoma de cura.

O cintilar das estrelas desenham no âmago da minha alma um jardim, cujas flores emanavam a redenção da primavera e no qual meu espírito irrequieto tomou uma dose anestésica de sabedoria: transformando-se em um espírito fleumático, solitário e deleitoso: no contato mais íntimo com as palavras, com a sabedoria e com a presença física nesse universo regido pelas vontades de estar só, havendo alguém lhe segurando a mão – segundo sintoma de cura.

Os monstros começaram a ganhar uma velocidade caótica. À medida que seus campos gravitacionais se aproximavam, minha existência começava a ganhar um ar pungente, devido à velocidade destruidora que eles ganhavam – segundo sintoma de dor.

Esse presente dualismo – dor e cura – atormentar-me-á até meu último suspiro; e através do qual vou traçando meu destino: dirigindo, caoticamente, pela estrada da sabedoria, na qual muitas vezes estarei em contato íntimo com as palavras. Contato este que muitas vezes será penoso, porém eu sei que a imensidão desenha minha redenção através das palavras, através da escrita que me queima a mão.

Eu não pertenço a mim. Pertenço às palavras que fluem pelas minhas veias e artérias, ora diminuindo o volume de oxigênio, ora aumentando o volume de oxigênio, fazendo-me existir. 


Um comentário:

Betina Pilch disse...

"Esse presente dualismo – dor e cura – atormentar-me-á até meu último suspiro." Pesadelos e sonhos. Realidade e ilusão. Sabedoria e Ignorância. Sentimentos contraditórios em constante conflito, vez ou outra, me assombram. Mas as palavras, de certa forma, ajudam a amenizar toda essa turbulência interior que nos incomoda. Desabafamos em palavras escritas, despejamos nossas aflições sobre um papel em branco sempre disposto a ser ouvinte. "muitas vezes será penoso, porém eu sei que a imensidão desenha minha redenção através das palavras, através da escrita que me queima a mão."
Me encontrei em suas palavras, como sempre geniais!