quinta-feira, 6 de junho de 2013

Amor maternal ?

Era noite de lua nova, eu sentira a tensão na voz dela durante todo o final de semana, estava inquieta e parecia nervosa. Não me preocupei, não deveria ser algo grave. De todas as recaídas que a depressão traz, as piores já passaram, agora é só uma questão de tempo. Analisei suas reações durante o filme que assistíamos na tv, algo a incomodava. Acreditei que passaria em breve, me enganei.

Estava sentada em minha mesa, folheando um de meus livros favoritos, imersa naquele mar de ficção romântica , quando, de súbito, ela entrou no meu quarto, trancou a porta atrás de si e com agressividade puxou meus cabelos enquanto me tapeava. Gritava barbaridades em meu ouvido, que estremecia com o som agudo da sua voz. Estava acontecendo novamente e eu rezei para que meu pai tivesse uma cópia da chave, da última vez que isso acontecera as marcas de seus dedos ficaram em meus braços e pernas por muito tempo.

E não demorou para que ela começasse a me mostrar seu novo repertório de xingamentos "sua inútil, vagabunda, sua desgraçada, é por sua causa que não vou chegar na minha velhice, você está me matando" dizia ela. Senti o ardor de sua mão contra o meu rosto e as lágrimas, que lutavam para conter-se, escaparam de uma vez, com tamanha intensidade que deixei-me ser levada por soluços e suspiros, sentia meu corpo tremendo por inteiro, clamando por um pouco de paz.

Pareceram horas até meu pai conseguir abrir a porta e contê-la, já era tarde. O estrago estava feito, desta vez ela conseguiu me arranhar com tanta força que em meu peito se formavam enormes vergões e minha cabeça latejava, latejava que parecia que eu iria literalmente perder a cabeça.

Eu já deveria ter me acostumado com a ferida que ela causa quando me xinga e me agride, com a dor no peito de ouvir a minha própria mãe desejando-me somente o mal. Até hoje mergulho em meus pensamentos tentando entender o que de tão mal faço a ela, sempre fui boa aluna e sem pestanejar troquei minhas bonecas por detergente e vassoura, a casa estava limpa enquanto ela se tratava no hospício. Lembro-me de terem dito que apesar de ser uma criança sapeca eu tinha um coração muito bondoso e deveria preservá-lo assim.

Fui uma criança infeliz e sou uma mulher forte, apesar de tudo. Sempre supero todos os obstáculos que a vida coloca à minha frente, tento não me importar, mas é impossível. De todo mal que ela me causou posso dizer que a muito tempo não sei o que é ter mãe de verdade.

O que me resta é sentar aqui, na frente do meu computador e contar-lhes a minha história, acompanhada de lágrimas e sofrimento. Aguardar que um dia a vida tenha piedade de mim e a cure, de uma vez por todas.


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