segunda-feira, 3 de junho de 2013

Te guardei nos raios de sol

Ao acordar ela abriu as cortinas que escureciam o seu quarto e através do vidro da janela ela viu o Sol surgir por entre a neblina que embaçava todo o seu horizonte de visão. Logo tudo estaria claro, nítido e o dia ficaria lindo, mas as sombras do passado ainda habitavam sua mente deixando rastros de escuridão.
Ela ignorou as sombras e manteve seus olhos focados no presente. Encheu o pulmão de ar e suspirou balançando a cabeça de olhos fechados "Hoje não será um dia nostálgico, só hoje eu não quero sentir saudades." - Pensou ela.
Pegou o seu livro de cabeceira e apertou contra o peito, como se as palavras ali escritas fossem penetrar seu coração. "A ficção de um romance detalhado é a única coisa capaz de me manter longe da tristeza e hoje eu preciso de doses de felicidade, mesmo que utópicas." - Refletiu.
Mas as sombras começaram a se engrandecer, cresciam tão rapidamente que nem mesmo a leitura de seu romance favorito foi capaz de iluminar todo aquele cinza que habitava a sua mente. "Uma mente cinza cheia de lembranças e um coração colorido cheio de amor." - Ela riu da ironia.
O Sol entrava janela adentro iluminando toda a dimensão de seu aconchego, mas sua mente era à prova de claridade e nitidez.
O Sol, pensava ela, lembrava os olhos iluminados dele. O frio daquela manhã sendo aos poucos extinto pelos raios da estrela maior lembrava seu coração no dia em que ela havia visto ele pela primeira vez.
Sua boca de repente trouxe aos ventos aquela verdade: "Ele trouxe calor para esse deserto gelado e hoje vivo com essa seca em meu coração rachado."
Todas as lembranças cresciam, cresciam tanto que já não eram mais lembranças dentro dela, e sim ela dentro das lembranças. E de repente todo o sentimento foi exposto em seu rosto a contragosto através das lágrimas.
O dia ficaria lindo, mas não ficou. O Sol ia raiar por horas, mas não raiou. Não havia previsão de chuva, mas a tempestade despencou. Pelo menos em seu interior foi isso que ela presenciou.
Era três de Junho de 2013, "Dois anos, três meses e cinco dias" - Ela lembrou. "O relógio nunca pareceu tão vivo, lembro tão nitidamente da primeira vez que ele me beijou." - Ela lembrava tão nitidamente que quase conseguia sentir-se beijada novamente.
Ela olhou o relógio: meio-dia. O Sol estava em seu auge e tudo que ela desejava era que os raios penetrassem seu coração aquecendo-o, nem que só por alguns minutos. Aquele buraco frio que ela carregava em seu peito ainda doía e a falta que o amor vívido fazia era tão fria que às vezes ela pensava que ia morrer de hipotermia.
Lembranças vívidas de um passado mórbido era tudo que ela possuía, e a saudade que ela sentia dele era o único tom de cinza em seu dia. "Acontece que às vezes esse tom de cinza é tão escuro que consegue camuflar todo o colorido da minha vida." - Lamentou.
Mas as suas artérias bombeavam romantismo e sua alma era vestida de esperanças, mesmo que isso a machucasse e torturasse um pouco às vezes, ela gostava de amar o seu primeiro amor. Ela amava com todas as suas forças e lutava para que nenhum detalhe daqueles dias coloridos que ela viveu ao lado dele morressem, e com o tempo as lembranças se tornaram imortais de tanto que ela relembrava.
Ela piscou os olhos, olhou pela janela novamente: 17h. O Sol já estava se escondendo e ela passou o resto dos minutos ali admirando aquele encanto que brilhava e aquecia sem precisar de ninguém. "Tão solitário, mas tão feliz... Ah sol, você também me lembra ele. Vou guardar em você cada lembrança que cultivo do meu garoto e toda vez que eu te olhar, estarei olhando pra ele também. Aqueça minhas lembranças, não as deixe morrer de frio, já faz um tempo que meu coração não sabe o que é ficar febril. Aqueça minhas lembranças, assim como o abraço dele me aquecia, mantenha minhas memórias vivas assim como ele me fazia sentir viva. Tão solitário, mas tão feliz... Assim também é o meu garoto, aquele que partiu meu coração e hoje habita cada cicatriz."

O Sol enfim se pôs levando consigo todas aquelas lembranças, mas ela sabia que no dia seguinte ao amanhecer cada lembrança retornaria, dessa vez menos frias, dessa vez menos mortas, porque ela encarregou o Sol de iluminar aquela sombra que há tempos ela carregava dentro de si.

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