Contemplo aqueles olhos castanhos
e grandes e confusos. Questiono-me, o que há de ser? O que há de ser de nós? O
que há de ser dessa livre humanidade que caminha sobre correntes incertas? O
que há desse singular que se encaixa perfeitamente no plural?
- Já se pegou em tais
indagações, vagando por tais universos? Preso em perguntas que possuem
respostas próximas a loucura? -
É este meu mundo. É essa
minha vida. Um quê eloquente amarrado a um por de romance. Um desespero
flácido, inconstante, que traduz em linhas os pensamentos tortuosos de meu ser.
Mas volto-me aos olhos
castanhos e grandes e confusos. São eles, o início de tudo, são eles que me
levam a tais ruas-pensativas-e-desoladas. Estes dois olhos ambíguos que sugam
cada força de minha egocêntrica alma e acabam por me levar a um lugar onde tudo
que habita são dois. Duas luas, dois rios, dois segredos, duas vidas. Nossas
duas vidas. Nossas. Pois para que uma vida se tornasse, antes de tudo, foram-se
necessárias duas vidas, a minha, a tua, e por fim, a nossa. Talvez fosse
necessário mais de duas, mas por enquanto as nossas bastam. São suficientes as
dores e as alegrias que circulam nossa existência. Nossa simples existência, se
não fosse por teus olhos castanhos e grandes e confusos que transformam o comum
ao raro. Estes olhos que delineiam os meus dias, as minhas noites e perseguem
cada página que folheio. São estes olhos que me causam uma insônia que
transborda em um sonho sem fim.
Parece tão sem sentido, que
apenas olhos castanhos e grandes e confusos respondam a um mar infinito de
perguntas. Olhos que marejam diariamente um oceano de exclamações enquanto os
admiro silenciosamente sentado a sua frente, numa pose discreta que indica o
quanto teus olhos são mais fortes que teu sorriso vago.
– O que há de ser? –
perguntam-me inúmeras vezes esses teus olhos. - O que há de ser? De tudo, de
nós, dos muitos, dos únicos, dos tais? O que há de ser?
Balbucio. – Há de ser amor.
– Há de ser amor, doce, quente, insano, mas amor. – Que outra coisa seria se
não amor? Algo que captura meus dias e me transportam para a noite de teus
olhos castanhos e grandes e confusos.
Texto escrito por Laura. Sorocaba - São Paulo
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