O peso do mundo é o amor.
Sob o fardo da solidão, sob o fardo da insatisfação...
O peso, o peso que carregamos é o amor.
Allen Ginsberg
(“Canção”, Uivo).
“O que é o amor para você?”, foi
a pergunta que fiquei encarregada de responder. Ou pelo menos tentar.
Ah, são tantas as coisas...
Gosto, em tardes bonitas, de
imaginar a minha futura casa: branca e pequena, com uma varanda apenas minha.
Com uma laranjeira bem no fundo do quintal grande, e um enorme jardim.
Imagino as minhas tardes: com
todas as janelas abertas e os gatos andando pelos cômodos, as cortinas claras
ao vento e o cheiro do café posto na mesa do pátio branco. Isso, pra mim, é
amor.
Livros em todos os cantos: na
sala, abertos no chão da não tão pequena biblioteca, pelos corredores, no meu
quarto... Pilhas e mais pilhas de livros. Sim, também é amor. E o guarda-chuva
colorido parado na porta, ainda úmido. O filme de Charlie Chaplin que estará
passando na TV também é amor (o filme? “O garoto”). O Chopin saindo da vitrola,
ou Debussy, ou Mozart... E depois? Piaf. O nível máximo de amor.
Imaginar-me, no finalzinho da
tarde, andando pelo jardim - em meio às rosas, aos lilases, aos jasmins, aos
miosótis. Apreciando os formatos das nuvens.
Nós dois. O calor humano - através
de nossas mãos entrelaçadas.
O amor.
Que faz com que nós decifremos o
desenho do rosto um do outro. Que nos fará dançar enquanto o dia acaba.
Percebendo a escuridão - e não tendo medo dela, já que estamos juntos. Adorando
a lua e apreciando as nossas estrelas.
Então, o disco será outro. Frank
Sinatra - que estava tocando quando nos conhecemos, naquele bar.
Apagaremos as luzes. Sairemos.
Olharemos as casas, uma por uma,
até chegarmos à cafeteria da esquina... E sentaremos. Apenas isso. “As calçadas
ainda estão molhadas e brilhosas...”, dirás distraído. E tua voz irá me fazer
lembrar de tempos passados, logo quando nos conhecemos. E quando nos
encontrávamos por acaso pelas ruas; quando passamos a andar sempre juntos, um
do lado do outro. Lembrar de nossas brincadeiras, de tuas histórias de quando
criança (tão aventuroso!), de tuas cartas de envelopes coloridos (e a tua letra
tão bonita!). Amor? Sim, amor.
Voltaremos pra casa - com a voz
de Sinatra ainda invadindo as entranhas dos lugares - e vamos cozinhar. Cortar
legumes, preparar o arroz; pegar o vinho. E, com a mesa posta, sentaremos um de
frente para o outro.
Palavras doces, olhares. Amor.
Os gatos dormindo.
Nos olharemos de novo, mas agora
deitados (de barriga para cima) na cama ainda arrumada. E irás tocar a minha
alma - de um jeito que não saberei explicar. Será assim a noite inteira, agora com
poucas palavras - sussurros. Uma calmaria por ter teu corpo junto ao meu.
Amor.
Passará da meia-noite e mais um
dia. Um dia que será meu. Teu. Nosso. Um dia só nosso... Em que, pela primeira
vez, não ligaremos para o filme - por já termos assistido tantas e tantas
vezes. Um dia nosso... Amor. Parados na cama, juntos. Sentindo a respiração um
do outro. Sabendo de nossa presença... Um do outro, e só. Nos conhecendo
através da palavra... Amor. Desalinhados, traçados, circulados. Encontrados,
por fim.
Então, não importará mais o que
acontecerá lá fora - só sabendo que a chuva voltará para molhar as janelas,
portas, telhados marrons.
Descobrirei que o perfume que
ficará em meus dedos ao passeá-los pelo teu pescoço me deixará feliz. E teu
sorriso também.
E que isso - tudo isso - é a
minha forma de conhecer o amor e adorá-lo.
-Morgana Pinto, menina linda de Belém. "Já que 'o jeito é ser', apenas sou, como Macabéa."
Nenhum comentário:
Postar um comentário