sexta-feira, 31 de maio de 2013

Jardim de recordações


Recostada àquela parede, úmida pelo sereno da noite anterior, lembro-me dos dias em que a paixão fazia parte do meu corpo e da minh'alma.  Caminhávamos ao sol pelo jardim, inundado de flores, o coração palpitava mais forte quando seus olhos penetravam no meu, a maciez do toque de sua mão enlaçando meus dedos nos seus me traziam tremores involuntários. Éramos jovens e juntos descobrimos o amor, um trazendo ao outro os prazeres de uma vida a dois.

Por muito tempo aquele jardim fora nosso ponto de encontro, madrugávamos planejando nosso futuro na companhia de uma fogueira, ele tocava em seu violão a nossa música e repetia e repetia “eu amo você”. Ah, o amor, sempre nos roubando sorrisos bobos, nos enchendo o estômago de borboletas e nos fazendo tropicar de pernas bambas no meio do caminho. Percorre nossas veias, embaça nossos olhos e quando nos entregamos por inteiro ele nos mata, nos corrói  por dentro ao mesmo tempo que te dá forças pra sobreviver a isso, te alimentando de confiança e esperança.


O amor não é se envolver com a pessoa perfeita, aquela dos nossos sonhos. Não existem príncipes nem princesas. Encare a outra pessoa de forma sincera e real. O amor só é lindo quando encontramos alguém que nos transforme no melhor que podemos ser.


Hoje, volto sozinha àquele jardim e me encontro somente imersa em lembranças de um passado que não volta mais.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Ama quem não sabe o que é O Amar

O amor é um sentimento que através do qual as pessoas libertam seu lado racional – assim o deveria ser – e entregam-se à emoção.  Estamos presos à racionalidade diariamente; e o amor manifesta-se nas pessoas para que essas correntes sejam rompidas.

Amar é entregar-se à outra pessoa. É deixar o sangue correr mais violentamente sobre as veias e as artérias. É deixar que o alheio habite nossos corações. É deixar a mente tornar-se indômita. Conhecer o novo é amar. Reviver o velho é amar. Escrever, deliciosamente, sobre o futuro, é amar. Ama quem conhece o que é o amar, sem saber o que é amar.

Das várias vertentes do amor, a mais discutidas e discorridas pelas pessoas, é o amor entre as pessoas. A partir do momento, no qual o gélido coração entra em contado com o intangível sentimento – o amor -, buscamos, a priori, a mutualidade desse sentimento. Muitas vezes tal não sucede: podendo, nos corações mais sensíveis, levar a pessoa à desolação.  Mas, pois, o que nos machuca nessa busca pela mutualidade não é o sentimento que fora plantado em nossos corações por outrem, são as expectativas que criamos a partir do cintilar do amor.

A grande incógnita do amor são as expectativas criadas quando o sentimos.  Amar é entregar-se. E, a partir do momento que ocorre a entrega, as expectativas começam a esvair-se, pois começamos a sentir as doses de adrenalina causada pelo amor, e mesmo que não ocorra uma reciprocidade de um sentimento intangível, o amor pode virar uma história ou uma estória.

Amar é sentir-se na alma de outem.
Amar é viver-se no coração de outrem.
Amar é entregar-se: à pessoa ou às palavras.
Amar é e reescrever a história ou estória demasiadas vezes.

Amar é esquecer do mundo e, simplesmente, amar sem saber o que é o amar.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Contemplação

Pela janela afora encarava o Universo se findando. Vislumbrava a Lua clareando a escuridão do mundo naquele denso céu, e transferindo seu brilho ao extenso Mar que ali se estendia. Inspirou fundo. Fechou os olhos.

Pobre Lua! Tão bela, tão só. Não havia ninguém para compartilhar aquela cena reprogramada em seus olhos, e tão pouco a grandeza que aquilo significava. Mas algo ali era intrigante. Estava contido nos detalhes, nos olhos dispostos a enxergar. Havia a contemplação singela e ínfima, a modulação de dois espaços numa união imensurável. A simples ação de entrega, aniquilava qualquer colonização ou mudança, transpassava os questionamentos físicos. Dois, se encontrando em um. Um sendo dois. Ambos contemplando sua solidão. Ambos transbordando seus detalhes. A grandeza de uma Lua, que se tornou abundante em um Mar solitário. O inóspito Mar, encontrando sua companhia numa noite rarefeita. A magia da contemplação. A utopia do amor. O amor que não impõe, sobretudo permite a ipseidade singular.  O amor que se lança a insegurança, os escassos, a libertinagem, que adentra novos mares e contamina corações céticos. Estava ali, uma ingênua demonstração camuflada de amor. Sem privações, imposições, ou mudanças.

O vento frio passou rente seu rosto, trazendo seus pensamentos para a realidade. Abriu os olhos. Não existia mais nenhum reflexo ali. As nuvens haviam ocultado o brilho da Lua, e o Mar nunca pareceu tão solitário. Todavia naquela noite compreendeu a beleza dos detalhes. E almejou mais uma vez que alguém por alguns momentos, contemplasse sua singularidade, e adentrasse em seu mar de solidão.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

O mais piegas de todos os clichês

O despertador cumpria a sua tarefa diária de podar meu sonho bem no auge de sua vivacidade. Todo dia gritava ao meu lado, com ciúmes daquele sentimento que havia escravizado a minha razão sem possibilidade de carta de alforria. Eu retornava a realidade com saudade, desejando voltar para as ilusões que eu havia cultivado.
Assim, eu passei a trazer minhas ilusões para o dia-a-dia, passava o dia inteiro escrava daquelas fantasias, os sonhos haviam se tornado a minha rotina.
Disseram-me certa vez que não existe definição para aquele crime onde o ladrão rouba um coração. Vivia em busca de algum significado e sempre ouvia a mesma explanação: “Amor rima com dor, não se deixe cegar por esse esplendor. Vez ou outra solta faísca de felicidade, mas constantemente vai te fazer sofrer com a não reciprocidade.” Não concordava. O amor não é sinônimo de sofrimento, disso eu tenho certeza. Amor é doação e quando a gente se doa não espera retribuição. Ainda assim constantemente lucramos: Ganhamos sorrisos bobos, sonhos coloridos, um prazer precioso e uma esperança grandiosa que nos mantém vivos.
Quem cria cicatrizes nesse frágil e encantado órgão palpitante somos nós mesmos, não o amor. Nos precipitamos, somos impulsivos, caímos na rotina, esquecemos de regar nosso jardim de amor e deixamos murchar esse sentimento tão bonito. Dessa forma, das pétalas guardamos apenas as lembranças e o que nos resta é conviver com os espinhos que nos ferem – tudo culpa da nossa própria negligência.
A falta ou a presença de reciprocidade pouco importa, porque quando a gente ama, ama intensamente, ama por dois, e poder cuidar do outro já é o nosso maior presente – ainda que possamos cuidar apenas no nosso mundinho da imaginação, o amor nos dá essa possibilidade, sempre podemos viajar para outra dimensão. Nunca haverá igualdade de sentimentos entre duas pessoas quando se ama, porque amor não é matemática exata que a gente calcula e divide em duas metades. Amor é literatura, é poesia, não é pra ser entendido, é para ser sentido e apreciado.
O amor é mesmo contraditório e o mais piegas de todos os clichês, ainda assim é almejado e constantemente argumentado mesmo sem possuir um por que.
                                                                                                                                                    - Betina Pilch.