segunda-feira, 27 de maio de 2013

O mais piegas de todos os clichês

O despertador cumpria a sua tarefa diária de podar meu sonho bem no auge de sua vivacidade. Todo dia gritava ao meu lado, com ciúmes daquele sentimento que havia escravizado a minha razão sem possibilidade de carta de alforria. Eu retornava a realidade com saudade, desejando voltar para as ilusões que eu havia cultivado.
Assim, eu passei a trazer minhas ilusões para o dia-a-dia, passava o dia inteiro escrava daquelas fantasias, os sonhos haviam se tornado a minha rotina.
Disseram-me certa vez que não existe definição para aquele crime onde o ladrão rouba um coração. Vivia em busca de algum significado e sempre ouvia a mesma explanação: “Amor rima com dor, não se deixe cegar por esse esplendor. Vez ou outra solta faísca de felicidade, mas constantemente vai te fazer sofrer com a não reciprocidade.” Não concordava. O amor não é sinônimo de sofrimento, disso eu tenho certeza. Amor é doação e quando a gente se doa não espera retribuição. Ainda assim constantemente lucramos: Ganhamos sorrisos bobos, sonhos coloridos, um prazer precioso e uma esperança grandiosa que nos mantém vivos.
Quem cria cicatrizes nesse frágil e encantado órgão palpitante somos nós mesmos, não o amor. Nos precipitamos, somos impulsivos, caímos na rotina, esquecemos de regar nosso jardim de amor e deixamos murchar esse sentimento tão bonito. Dessa forma, das pétalas guardamos apenas as lembranças e o que nos resta é conviver com os espinhos que nos ferem – tudo culpa da nossa própria negligência.
A falta ou a presença de reciprocidade pouco importa, porque quando a gente ama, ama intensamente, ama por dois, e poder cuidar do outro já é o nosso maior presente – ainda que possamos cuidar apenas no nosso mundinho da imaginação, o amor nos dá essa possibilidade, sempre podemos viajar para outra dimensão. Nunca haverá igualdade de sentimentos entre duas pessoas quando se ama, porque amor não é matemática exata que a gente calcula e divide em duas metades. Amor é literatura, é poesia, não é pra ser entendido, é para ser sentido e apreciado.
O amor é mesmo contraditório e o mais piegas de todos os clichês, ainda assim é almejado e constantemente argumentado mesmo sem possuir um por que.
                                                                                                                                                    - Betina Pilch.

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