segunda-feira, 26 de agosto de 2013

À menina mais linda desse mundo

Menina de coração puro e alma doce, era assim que eu me referia à ela.
Tinha olhos de esperança e um sorriso sonhador. De vez em sempre me pegava pensando nela e imaginava que sua voz devia ser a melodia mais bonita do mundo, que seu perfume devia ter cheiro de alegria. 
Eu nunca tinha ouvido ela falar, mas suas palavras escritas possuíam a voz mais tocante que eu já tinha conhecido. Uma voz que preenchia, compreendia, alegrava e trazia paz. 
Eu nunca havia estado em corpo presente com ela em algum lugar, mas sua alma constantemente me fazia companhia e todas as noites eu a encontrava brilhando no céu. Sua alma era a coisa mais linda que existia nesse mundo.
Menina iluminada, isso ela era também. Eu costumava dizer que ela era a minha luz em meio a escuridão sempre a me guiar rumo a felicidade. Meu riso sempre era mais feliz com ela.
Um tesouro precioso, desses que os piratas passam a vida procurando com o auxílio de um mapa e morrem sem encontrar. E eu, justo eu, tinha encontrado o tesouro, e desde então minha vida tem sido rica, valiosa, pois guardo esse tesouro raro em meu coração. 
Às vezes penso que ela é meu anjinho da guarda, que sobrevoa minha vida com o objetivo de me fazer feliz, de me ajudar a realizar meus sonhos... E se esse era realmente seu objetivo, tem cumprido com êxito desde o dia que cruzou o meu caminho.
Faltam-me palavras para descrever tamanho encanto, ela me emociona de tal forma que meu coração transborda. Porque ela vive, eu vivo. Porque ela vive, meu mundo tem duas vezes mais estrelas que o céu. Ela a melhor parte do meu mundo, a melhor parte da minha vida, a melhor parte de mim.
E hoje... Hoje faz 18 anos que esse anjo desceu ao mundo e há 18 anos o mundo tem sido muito mais bonito, pois ela faz do mundo o lugar melhor de se viver.
Hoje meu maior desejo era abraçá-la e dizer o quanto eu a amo, mas como não é possível o que me resta é fazer essa singela homenagem.


Feliz aniversário minha Camilinha linda linda linda, a mais linda do mundo inteiro. Obrigada por ser meu arco-íris em meio ao cinza, a estrelinha que ilumina o meu céu, meu Sol em meio a escuridão. Sou feliz porque finalmente encontrei alguém para contemplar comigo a imensidão. ♥

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Nós no coração

Nos últimos dias tenho me sentido muitos meios. Meio estranha, meio apaixonada, meio carente, meio triste! Meu coração tá confuso. Acelera e desacelera, tirando meu fôlego. Penso que ele esteja com saudades da rotina. Ou talvez esteja implorando por algo novo. Essas contradições me deixam maluca!

Venho perdendo muitas noites de sono. E apenas imploro naquele silêncio absoluto para que aquele nó sumisse imediatamente da minha garganta. E que meus pensamentos desaparecessem com a rapidez de uma estrela cadente que corta o céu. Mas esses pensamentos não foram tão bonzinhos assim. Na verdade vieram com tanta intensidade e quantidade que acabaram confundindo mais e mais o ponto que estava quase perdido. Aquele lugar que mais precisava de estabilidade, sustentação, de bases para fica ali paradinho e em perfeito estado, sem se mexer e nem derrubar nenhuma das pecinhas que mais precisavam de apoio. Mas como uma mente ficará quieta por no mínimo 5 segundos, no silêncio de um quarto escuro, com um coração virado aos avessos? E nessas horas eu penso "porque é tão bagunçado aquele lugar que deveria ser o mais quieto, o mais seguro?" É tamanha bagunça que os nós rodam e se enroscam, e ainda assim fica um nó por cima do outro.
As vezes atrapalha, machuca e arde muito. E não é pouco. É quase igual à uma queimadura ou uma cicatriz que, no tempo frio, lateja. Incomoda até os cantinhos mais seguros possíveis.

Ele sim! Ele é o motivo do meu sorriso torto, das aceleradas e dos nós no meu coração.Ah e reze muito pra não aparecer ninguém que mexa comigo enquanto você fica brincando de não saber o que quer.
Eu não recomendo estar o tempo todo ao meu lado. E nem julgo quem prefere deixar de estar. Se eu não fosse obrigada a conviver comigo, talvez nem eu mesmo estaria.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A canoa cor de nada



O meu coração precisa de algo além de sangue
venoso e arterial
e do movimento idiossincrático da
sístole e da diástole.
O meu coração – pequeno na sua
imensidão,
precisa de amor
e também de
solidão.
Esta, para discorrer,
sonhar, buscar e vomitar palavras em um
documento em branco do word:
aliviar a pressão de uma comporta não aberta.
Aquele, para eu simplesmente
amar, silenciar e acalentar 
o meu coração e a minha mente indômita perturbada pelas
quimeras da solidão.
O amor é o remar manso da minha canoa,
um ruído imperceptível aos ouvidos sensíveis.
Quando ama, não fala, não grita, 
apenas sente a beleza do amor e 
escuta...
escuta as palavras discorridas na ausência,
na solidão.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Enfim, completa

Sempre fui sonhadora, do tipo que inspira romantismo e expira esperança. Que perde o sono, porque não é preciso dormir para sonhar.
Sempre tive os sonhos como meus melhores amigos e eles nunca me abandonaram. Muitas vezes desisti de sonhar, mas felizmente os sonhos nunca desistiram de mim.
Há quem diga que quem sonha demais acaba se frustrando, e é verdade. Muitas vezes tive a decepção e frustração como companhia. Muitas vezes me afoguei em lágrimas por achar que meu destino era negligente e esquecia-se de me dar um pouco de felicidade, porque para mim tal sentimento sempre estava em falta.
Mal eu sabia que o meu destino se importava muito comigo, a ponto de achar que eu não merecia metades, que eu não merecia doses homeopáticas de felicidade. Ele preferiu guardar cada dose até ter certeza que eram suficientes para curar todas as minhas enfermidades. Então finalmente o destino resolveu me dopar, me fez tomar tantas doses de felicidade que a cura foi instantânea.
Há quem diga que não vale a pena acreditar nos sonhos que se tem, quão pobres são tais pessoas.
O “Era uma vez” pode sim transformar-se em um “É dessa vez!”. A história pode sim virar um conto de fadas. E o “felizes para sempre” pode sim ser distante o bastante para a história ser escrita de forma tão bela e detalhada que possa futuramente ser lida como a Bíblia do Amor.
Histórias não são contos fadas pela capacidade dos personagens serem príncipes e princesas. Contos de fadas têm a ver com a capacidade dos personagens terem coragem o suficiente para rejeitarem o papel de coadjuvante, para enfim terem acesso ao enredo dos protagonistas. Está na capacidade dos personagens viverem a história intensamente e aceitarem Deus como escritor.
Achamos que nunca viveremos uma fantasia cinderelesca, mas de repente a vida samba em nossa cara e ri nos dando o livro embrulhado para presente. Quando lemos nosso nome escrito no livro nem acreditamos, achamos que logo o despertador irá tocar nos acordando do sonho. Mas aí a gente acorda e vê que dormimos abraçados com o livro e quando abrimos nosso livro nosso nome ainda está escrito lá. E então sorrimos, sorrimos porque pela primeira vez a vida sorri pra gente.
Sim, a vida é engraçada e gosta de nos torturar um pouquinho. Nos dá provas de fogo só para ter certeza se somos merecedores do que ela, com muito carinho, nos reserva.
Sim, o mundo pertence aqueles que acreditam na beleza dos seus sonhos. E hoje o mundo me pertence, eu consigo abraça-lo, porque finalmente sou completa. Meus braços já não são curtos demais, porque a vida com muito amor me tornou infinita.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Pulsantes Impossibilidades

Impossível descrever o meu sentimento ao ser a responsável por um sorriso seu, seja ele de canto, envergonhado, descarado, espontâneo, ou multiplicado, em uma risada contagiante que flutua por toda a sala e colore tudo ao seu redor. 
Impossível descrever o que eu sinto quando eu penso em você, é carinho, é coração, é pele, é conexão, é química e é paixão, é tudo isso se misturando com um medo enorme de te perder. Não é aquele medo egoísta de sofrer, é medo de deixar de viver tudo aquilo que de melhor poderia nos acontecer, de nunca mais amanhecer com seus olhos de esperança me olhando, de não poder mais desenhar sorrisos no seu rosto, de não ouvir o teu silencio me dizendo coisas lindas.
Impossível não querer você sempre por perto, me virando, desvirando, revirando tudo do seu jeito tão atrapalhado, do seu jeito tão... eu. Tão meu! Impossível não temer a despedida. Mas se tiver mesmo que ir, deixa seu coração aqui comigo?

                                                                              - Thaís Karam (Curitiba - PR)

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

A antítese paradoxal


Eu quero ser o choro da tua prosa
Eu quero ser o sorriso da tua poesia
Preciso enaltecer o botão desta rosa
Cheirar, contemplar e sentir a febre da tua alegria.

Sonhos de um poeta doente:
Todos os dias os muros gritam:
- É preciso acreditar na sua mente
E não seguir o que ditam.

Eu preciso sentir o teu doce calor
Envolver-me na relutância das tuas provocações
Voar, voar, voar, amor
Sentir a erupção das mentes em plenas convulsões!

Mente indômita que vasculha
O pérfido destino da plena razão
Dar-lhes-ei de presente
Toda a plenitude do coração.

É preciso esquecer a saudade que namora
Navegar nesse mar oblíquo
Dos teus olhos de aurora
À parte disso, tens sempre dito:

Acreditas, que o dia chegar-se-á
Esvoaçará em nuvens errantes
E sobrará tempo, dir-me-á:
- Plural são nossas noites dançantes!

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Pontos

Ventos do acaso conduziram a felicidade
Saturado em redemoinho de penitência
Um suspiro murmurava sem finalidade:
Não perdure em mim, eterna reticência

Banhado por suspense e mistério
Havia ali uma sentencia
Onde uma voz angustiada clamava em deletério:
Não perdure em mim, eterna reticência

Morada frívola desmoronou em quimera
Estrutura vã perdeu-se em negligência
Fumaça ilusória ecoava tamanha miséria:
Não perdure em mim, eterna reticência

Dos ventos passados - um suspiro emudeceu
O grito alforriado - bradou insolência
Vestígios bipartidos - ao desgosto cedeu 
Perdurou em si: reminiscência...

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

O poema mais curto do mundo

06 de agosto de 2013
Querido moço dos olhos gentis,
Hoje é terça-feira e aqui estou eu na aula de Literatura com a mente confusa e o coração bagunçado. Enquanto a professora revisa no quadro negro todas as épocas literárias me pego criando um tempo novo, um tempo iniciado por uma história em que você é protagonista. Um tempo para dois. Para eu e você. Para nós dois.
Fujo para um local distante, minha imaginação torna-se minha guia e me pego sendo turista do Mundo dos Sonhos. Logo peço para visitar os pontos turísticos mais belos desse local e minha imaginação, muito competente, me leva até os seus olhos, depois ao seu sorriso, depois ao seu corpo. E após observar cada detalhe percebo que você é uma das maravilhas do meu mundo.
Retorno à realidade, pego meu caderno e com a caneta em mãos escrevo-lhe esta carta. Escrevo-lhe para pedir que liberte minha mente, que hoje se encontra escravizada por pensamentos fiéis a você.
Já não consigo prostrar minha razão a outra coisa além dos seus encantos. Estou hipnotizada por seus detalhes.
Por um breve instante me permito estar em sala de aula novamente e ouço a professora recitar um poema. Não me interesso. Pois o meu poema favorito apenas meu coração entende, apenas meu coração sabe interpretar, apenas meu coração sabe recitar: Você. 

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Domingo à tarde


Domingo à tarde é um dia clichê para os amantes. Domingo à tarde, sol, sensação térmica febril, companhia, sorvete, parque. Não há dia mais clichê para um casal recém-apaixonado. Ela – garota dos olhos rasos cuja cor escura estremece qualquer encontro ocular perdido no espaço-tempo; corpo de uma palidez que chega a ofuscar quando os raios solares incidem sobre sua pele cuja maciez balança qualquer coração empedernido; seios delicadamente pequenos; anca avantajada; pernas delicadíssimas. A rapariga com cuja voz doce e delicada. Ele – garoto dos olhos perdido; pele áspera; rosto de uma brancura que cuja olheira enxerga-se de longe; pescoço esguio; um corpo magro e delicado, porém atlético; uma voz surrada e cansada.

Era um domingo de dezembro quando o casal recém-apaixonado, cheio de promessas, emanando amor por todos os orifícios do corpo, com juras eternas de amor, arquitetando todos os devaneios para uma vida longínqua e apaixonada, resolveram, pós-almoço, dar uma volta no parque da cidade.

O parque ficava localizado a três quadras do local onde o casal se encontrava. Caminharam silenciosamente. Todo o percurso fora feito de mãos dadas: como se aquelas mãos tivessem sido projetas para encaixarem-se perfeitamente. Era uma sensação de bem-estar, tanto para ela, quanto para ele, estar ligados pela perfeição do encaixe das anatomias: é como dois planetas errantes caminhando a um buraco negro; não há volta.

Chegaram ao parque suando. Ela, com toda delicadeza que uma garota apaixonada, sempre quer estar radiante ao lado do amado. Sentia-se mal por estar com os cabelos perdidos no espaço e estar suando desesperadamente por causa do calor que o azul cristal do céu mandava: apenas algumas nuvens errantes ao céu. Ele percebeu o mal-estar que emanava dos olhos de Karen e disse, Vamos ao banheiro, nos secamos com o papel-toalha que lá se encontra. Ela sorriu e caminharam ao banheiro.

Resolveram dar uma volta de bicicleta. O parque, todo arborizado, lembrava uma floresta: o cantarolar dos passarinhos, o vento balançando os galhos das árvores, as sombras das árvores. Pedalaram por alguns minutos, silenciosamente. Ambos eram pessoas quietas. Após alguns minutos, Karen sentiu-se uma fadiga e disse a Jonas, Amor, vamos parar naquela sombrinha, não há ninguém, podemos sentar um pouquinho e descansar para depois voltarmos. Ele apenas fez um gesto de consentimento com a cabeça.

Deixaram as bicicletas ao chão e à sombra deitaram, lado-a-lado. O lugar estava vazio, apenas o cantarolar dos passarinhos e o soar do vento. Jonas disse, Karen, a vida nos surpreende sempre. Ela o interrompeu dizendo, Sim, mas por que estás me dizendo isso, perguntou. Ele sorriu e disse, Porque eu sou descrente no destino e a vida me colocou uma pessoa muito especial. Ela sorriu deliciosamente e permaneceu em um silêncio saudável por alguns instantes e completou, Realmente, a vida é cheia de surpresas, por mais clichê que isso possa soar, após uma pausa, continuou, Aqueles que estão dispostos a remar nesse mar desconhecido que é o futuro, pode se surpreender com simples gestos que passam despercebidos aos olhos daqueles cuja sensibilidade fora roubada pelo mundo.

Jonas sentiu um calor lhe preencher o peito: como se uma cancela de sangue tivesse sido aberta abruptamente. É como se aquelas palavras proferidas docemente lhe colocassem em um lugar no qual a gravidade não o prende ao espaço físico. Ele sorriu abestalhado. Abraçou-a e tomou-a em seus braços. Por um instante dois corações soaram em uníssono. As suas bocas se encontraram e seus corpos estavam elevados a um estado de serenidade e bem-estar: a lassidão perpétua de um amor recíproco O cantarolar dos passarinhos complementava a música que pairava sobre as suas cabeças, a qual ninguém escutava nem mesmo eles, porém eles sabiam que havia uma música sendo cantada do Universo.

Resolveram, após o encontro dos lábios macios de Karen e os lábios densos de Jonas, voltar a andar com as bicicletas emprestadas pelo parque. Andaram mais alguns minutos, o sorriso desenhado no rosto de ambos quando seus olhos se encontravam por um tênue momento, mostrava que a felicidade era uma casa pequenina no coração gigante de dois amantes. Devolveram as bicicletas e resolveram voltar à casa.

No caminho de volta, resolveram parar numa sorveteria. Karen pediu um sorvete de flocos, Jonas a acompanhou, porém com um de menta com chocolate. Sentaram-se e começaram a saborear o sorvete. Mas, aos olhos do público, eles estavam saboreando o amor. A liberdade que o amor recíproco causa no coração das pessoas. Subitamente, Jonas pensou que a liberdade deste amar uma hora acabaria: todas as promessas, todos os planos para uma vida longínqua, apenas acabaria. Seu coração, subitamente, esmoreceu. Sentiu um mal-estar, mas mesmo assim saboreava alegremente aquele momento. Pois a ausência é um conjunto de presenças não sugadas pelo coração; e ele sugava todas as horas que passava ao lado de Karen. E Karen também aproveitava cada momento ao lado de Jonas.

À porta da casa de Karen, Karen o envolveu em seus braços. Jonas sentiu o calor dos braços de sua amada. Por alguns minutos ficaram se entreolhando, a meia-distância. Aquela sensação de desvendar o que o outro esconde atrás dos olhos, os excitavam. Era um momento de transe. Jonas a beijou apaixonadamente e Karen retribuiu na mesma intensidade que o amor permite. Despediram-se.

Jonas caminhou alguns metros e sentiu um ar gélido lhe correr pela espinha. Olhou para trás e viu que Karen ainda se encontrava ao portão. Voltou bruscamente e lhe disse, Eu quero aproveitar cada minuto ao teu lado, quero envolver-te apaixonadamente em meus braços todas as noites que ainda estão por vir, quero amar-te até mesmo quando todos os nossos momentos que estamos vivendo acabarem. Ela sorriu e era um sorriso de consentimento, de mutualismo. Eles se beijaram como se aquele fosse o último beijo dos amantes.


Domingo à tarde é feito para os corações apaixonados, nada mais.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

O cobertor vermelho

Estava em seu quarto, em seu vasto latíbulo. Uma espécie moderna de um casulo volvido por cicatrizes alheias. Era isso. Ela é isso. Protegida por seu cobertor vermelho, nenhuma fresta Solar habitava ali. Busquei enfim questionar aquela situação atual.

- Onde se encontra o brilho que cintilava em seus olhos?
- Conheces o filho do dono da padaria? Ah.. pobre menino. Andava tão desiludido da vida. Entreguei à ele os mais singelos detalhes que haviam por detrás de meus olhos.
- E seu sorriso? Onde se encontra?
- Conheci uma menina que passava por tamanha inquietação. Acredita que ela não encontrava uma razão para se alegrar da existência? Pois bem, entreguei o meu sorriso embrulhado em um largo abraço.
- Eu não consigo perceber seu ânimo, por onde ele caminha?
- Atrás da praça tem uma pequena casinha amarela, conheces? Lá mora uma senhora que procura apenas por uma bifurcação, tentando se livrar da doença que lhe encontrou. Deixei com ela o meu mais autêntico entusiasmo. 
- E sua auto estima?
- Um rapaz no metrô.. ele estava tão cabisbaixo. Após longas conversas, depositei nele toda minha fonte de motivação.

Percebi quando ela fechou os olhos. Aceitei tal ação em silêncio. Acredito que estava saturada de perguntas minhas, e decidiu então aniquilar as mesmas.

- Somos poeiras cósmicas - ela disse por fim - vestígios em decomposição. Corpos celestes que se desvanecem buscando silenciosamente algum afago. Constelações de estrelas isoladas. Percebe? Estamos à  mercê do mundo, e dos outros.

Novamente ela fez daquele cobertor vermelho, sua única segurança. Perdendo-se entre costuras e cicatrizes. Fiquei portanto vislumbrando tal casulo impregnado de estilhaços de outrem. Como uma doação de órgãos ela continha-se em tantos, menos em si. Suas dores delineavam-se em paredes interiores, e lá nenhuma janela existia. Motivada pelo desânimo, lentamente o sono a apagou. Concedendo-me a ação de excarcerar tamanho eco. Resolvi finalmente entregar-lhe a estrela central. Lentamente abri as janelas de seu quarto, esperando que tais frestas Solares iluminassem também sua alma. Ofereci à ela naquele dia o Sol e minha total esperança. Desejando que quando acorda-se pudesse outrossim despertar para a vida. E enxergar naquele Sol tão solitário, uma razão para cintilar novamente. Porque a frequência de estarmos à mercê do mundo e dos outros, não inibe a autoridade individual de gerir nossas constel(ações).

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Sentir sem estar

Um minuto, um instante, um detalhe, uma eternidade.
Um sonho realizado em constante continuidade.
Razão e coração cada dia a se complementar.
Um sentimento que perdura mesmo sem estar.
Sem estar perto, ao lado, a frente. 
Um estar sem comparecer, um estar diferente.
Sem estar vendo, falando, ouvindo.
Um estar infinito, um estar sentindo.
Sentir a voz sem estar ouvindo.
Sentir a presença sem estar vendo.
Sentir cada batida do coração em sincronia com outro,
mesmo sem saber se o outro está batendo.
Não ter asas e sentir que está voando.
Sentir o amor sem ter certeza se está amando.
Uma eterna interrogação que insiste em exclamar.
Vivo e respiro esse sentir sem estar. 

sábado, 3 de agosto de 2013

Opostos

Foi em Janeiro, verão de 2012 que a vi pela primeira vez, sentada ao lado de Drummond no calçadão da praia mais conhecida no mundo. Ao som do mar e visão de seus cabelos dourados e ondulados ao vento, pele celestial revestida pelo brilho do sol e um jeito meigo e apaixonante com que lia sua apostila do vestibular.
Logo se via que namoro não era bem seu objetivo e esse ano ela venderia sua alma aos estudos. Mas era totalmente mágico como eu tinha me apaixonado tão rapidamente por alguém que eu nunca havia falado. Nunca nem um oi ou um bom dia, ou qualquer outro cumprimento formal sem nenhuma intenção de interesse. Acho que ela nem me enxergava, pois passava por ela várias vezes sem nem atrair um olhar. Nem minha língua ela falava, nem meu olhar ela lia, nem a mim ela enxergava. Ela em matemática era poliglota, já eu, de poemas e textos sobre meus sentimentos por ela ainda me engasgava em minhas próprias ideias, que por serem muitas e distintas nunca me davam um verdadeiro e único fim.
Minhas esperanças partiam da teoria de que sem a língua portuguesa não existiriam maneiras de se resolver um problema aritmético, sendo assim, uma disciplina complementava a outra, assim como meus sentimentos, talvez, complementassem os dela. Porém em toda ideologia e filosofia de vida há trevas e nesse caso minhas trevas eram o medo baseado na intimidação do ideal perfeito de padrões estéticos de beleza impostos pela sociedade, onde perto dela eu me sentia um verdadeiro ogro, e não pela brutalidade ou força, mas sim pela feiura desse ser mitológico. Eu me afundava cada vez mais nessa escuridão e a deixava tomar cada vez o controle da situação, nunca me encorajando em trocar se quer uma palavra com ela, mínima que fosse.
Meu forte puramente não eram exatas e o dela entender meus sentimentos por trás das palavras. Por que crer que falar é melhor que escrever? Palavras faladas são jogadas ao vento e nem sempre encontram seu rumo, ou nem sempre são verdadeiras. Já escritas, precisam de um elemento a mais, seja ele uma amostra de opinião ou sentimentos. Se quem lê irá entender ou não, isso cabe ao autor decidir, pois muitos preferem viver na solidão de suas mentes, de seus corações, sem direcionar suas criações a um determinado alguém. Muitos não dariam valor a um texto em prova, a um poema ou a uma simples carta de amor, pois muitos absurdamente denominam esses tipos de atitudes sentimentais cafonas e ultrapassadas. Acontece que essa também é uma forma de se expressar, às vezes a mais fácil encontrada pelo remetente para que ele possa transmitir sua mensagem.
Era tortuoso vê-la passar com seus amigos e nem se dar conta de que eu estava ali, sempre olhando por ela, admirando-a e desejando que ela desse um sorriso para mim por mais amarelo que fosse. Mas me expressar somente por textos que ela nem ninguém jamais leriam não estava me ajudando em nada, pois eu continuaria sofrendo e escrevendo, e ela nunca me perceberia como gente, como um eterno e secreto apaixonado. E essa era minha nova determinação, dando certo ou não, não estaria perdendo nada, agora eu arriscaria de tudo para ganhar a reconhecimento dela.
                                                                              - Lucas Soares (Cascadura - RJ)