sábado, 3 de agosto de 2013

Opostos

Foi em Janeiro, verão de 2012 que a vi pela primeira vez, sentada ao lado de Drummond no calçadão da praia mais conhecida no mundo. Ao som do mar e visão de seus cabelos dourados e ondulados ao vento, pele celestial revestida pelo brilho do sol e um jeito meigo e apaixonante com que lia sua apostila do vestibular.
Logo se via que namoro não era bem seu objetivo e esse ano ela venderia sua alma aos estudos. Mas era totalmente mágico como eu tinha me apaixonado tão rapidamente por alguém que eu nunca havia falado. Nunca nem um oi ou um bom dia, ou qualquer outro cumprimento formal sem nenhuma intenção de interesse. Acho que ela nem me enxergava, pois passava por ela várias vezes sem nem atrair um olhar. Nem minha língua ela falava, nem meu olhar ela lia, nem a mim ela enxergava. Ela em matemática era poliglota, já eu, de poemas e textos sobre meus sentimentos por ela ainda me engasgava em minhas próprias ideias, que por serem muitas e distintas nunca me davam um verdadeiro e único fim.
Minhas esperanças partiam da teoria de que sem a língua portuguesa não existiriam maneiras de se resolver um problema aritmético, sendo assim, uma disciplina complementava a outra, assim como meus sentimentos, talvez, complementassem os dela. Porém em toda ideologia e filosofia de vida há trevas e nesse caso minhas trevas eram o medo baseado na intimidação do ideal perfeito de padrões estéticos de beleza impostos pela sociedade, onde perto dela eu me sentia um verdadeiro ogro, e não pela brutalidade ou força, mas sim pela feiura desse ser mitológico. Eu me afundava cada vez mais nessa escuridão e a deixava tomar cada vez o controle da situação, nunca me encorajando em trocar se quer uma palavra com ela, mínima que fosse.
Meu forte puramente não eram exatas e o dela entender meus sentimentos por trás das palavras. Por que crer que falar é melhor que escrever? Palavras faladas são jogadas ao vento e nem sempre encontram seu rumo, ou nem sempre são verdadeiras. Já escritas, precisam de um elemento a mais, seja ele uma amostra de opinião ou sentimentos. Se quem lê irá entender ou não, isso cabe ao autor decidir, pois muitos preferem viver na solidão de suas mentes, de seus corações, sem direcionar suas criações a um determinado alguém. Muitos não dariam valor a um texto em prova, a um poema ou a uma simples carta de amor, pois muitos absurdamente denominam esses tipos de atitudes sentimentais cafonas e ultrapassadas. Acontece que essa também é uma forma de se expressar, às vezes a mais fácil encontrada pelo remetente para que ele possa transmitir sua mensagem.
Era tortuoso vê-la passar com seus amigos e nem se dar conta de que eu estava ali, sempre olhando por ela, admirando-a e desejando que ela desse um sorriso para mim por mais amarelo que fosse. Mas me expressar somente por textos que ela nem ninguém jamais leriam não estava me ajudando em nada, pois eu continuaria sofrendo e escrevendo, e ela nunca me perceberia como gente, como um eterno e secreto apaixonado. E essa era minha nova determinação, dando certo ou não, não estaria perdendo nada, agora eu arriscaria de tudo para ganhar a reconhecimento dela.
                                                                              - Lucas Soares (Cascadura - RJ)

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