Estava em seu quarto, em seu vasto
latíbulo. Uma espécie moderna de um casulo volvido por cicatrizes alheias. Era
isso. Ela é isso. Protegida por seu cobertor vermelho, nenhuma fresta Solar
habitava ali. Busquei enfim questionar aquela situação atual.
- Onde se encontra o brilho que
cintilava em seus olhos?
- Conheces o filho do dono da padaria?
Ah.. pobre menino. Andava tão desiludido da vida. Entreguei à ele os mais
singelos detalhes que haviam por detrás de meus olhos.
- E seu sorriso? Onde se encontra?
- Conheci uma menina que passava por
tamanha inquietação. Acredita que ela não encontrava uma razão para se alegrar
da existência? Pois bem, entreguei o meu sorriso embrulhado em um largo abraço.
- Eu não consigo perceber seu ânimo,
por onde ele caminha?
- Atrás da praça tem uma pequena
casinha amarela, conheces? Lá mora uma senhora que procura apenas por uma
bifurcação, tentando se livrar da doença que lhe encontrou. Deixei com ela o
meu mais autêntico entusiasmo.
- E sua auto estima?
- Um rapaz no metrô.. ele estava tão
cabisbaixo. Após longas conversas, depositei nele toda minha fonte de
motivação.
Percebi quando ela fechou os olhos. Aceitei
tal ação em silêncio. Acredito que estava saturada de perguntas minhas, e
decidiu então aniquilar as mesmas.
- Somos poeiras cósmicas - ela disse
por fim - vestígios em decomposição. Corpos celestes que se desvanecem buscando
silenciosamente algum afago. Constelações de estrelas isoladas. Percebe?
Estamos à mercê do mundo, e dos outros.
Novamente ela fez daquele cobertor
vermelho, sua única segurança. Perdendo-se entre costuras e cicatrizes. Fiquei
portanto vislumbrando tal casulo impregnado de estilhaços de outrem. Como uma
doação de órgãos ela continha-se em tantos, menos em si. Suas dores
delineavam-se em paredes interiores, e lá nenhuma janela existia. Motivada pelo
desânimo, lentamente o sono a apagou. Concedendo-me a ação de excarcerar
tamanho eco. Resolvi finalmente entregar-lhe a estrela central. Lentamente abri
as janelas de seu quarto, esperando que tais frestas Solares iluminassem também
sua alma. Ofereci à ela naquele dia o Sol e
minha total esperança. Desejando que quando acorda-se pudesse outrossim
despertar para a vida. E enxergar naquele Sol tão solitário, uma razão para
cintilar novamente. Porque a frequência de estarmos à mercê do mundo e dos
outros, não inibe a autoridade individual de gerir nossas constel(ações).
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