Eu sempre precisei da
multidão para esvaziar-se-me. É uma sensação estranha que me preenche a alma. É
como se os meus pensamentos só fluíssem pelas minhas veias no silêncio do
travesseiro. Não posso escolher. Preciso dos bancos de uma praça. Lá eu
encontro um sossego. A multidão me consome. Os olhares que pairam pelo ar
sugam-me. Os corações que mesmo sem o encontro já batem em uníssono alegram-me.
Os beijos deveras apaixonados elevam-me. As gramáticas dos amores inventados fazem-me
voar. É um estado de transcendência: a minha solidão não existe, os meus
pensamentos habitam sabe-se-lá-quem, o amor que em mim existe, encontra a
estrela mais cálida. Mas à medida que a multidão começa a esvair-se e ir ao
encontro das suas casas velhas, meus pensamentos voltam a tumultuar-me, minha
solidão volta-se contra mim. Mas eu sou amante da solidão. Eu a admiro, pois é
nesse estágio letárgico do amor que eu a encontro. Eu sou um paradoxo.
Anoiteceu. Eu estava só. Ou me sentia só. Não sei. As estrelas começaram a desenhar-se no enegrecido firmamento. E por um momento, eu me senti preenchido. Mas nada havia. Apenas me havia. E havia também minha vontade. Minha ânsia de viver o êxtase do amor. Ao banco senti um calafrio. Senti um sussurro ao pé do meu ouvido. Eu estou ficando louco? Talvez eu tenha me tornado um insano por amar demasiado sem ter a quem amar. Talvez. Mas essa voz queria me dizer algo. Esse calafrio seria um coração chegando, o qual eu o zelaria com todo o meu amor? Não sei. Nem poderei saber. A voz parecia de uma multidão perambulando sem vida em busca de nada. E eu contemplava a abóbada celeste. E pensava comigo, Será que há alguém com os mesmos anseios, correndo em paralelo comigo? E gritava para mim. Gritava despudoradamente para o Universo, Se há, por favor, quero encontrá-la, preciso encontrá-la, preciso amá-la com todo o meu amor, amá-la livremente; e dizer que a amo, dizer que a amo através dos meus cânticos emudecidos pela solidão.
O Universo não me respondia.
E eu não escutava a voz de nenhuma menina. Será que há alguém? E será que eu
não cansarei de buscar? Já andei demasiado. Já visitei diversas praças. Já beijei através dos olhos. Já
consumi através dos sonhos. Será que meu combustível acabará? E de mim nada
restará? Talvez. Eu sinto um resquício de amor que ainda não me veio. A minha
gramática ainda acredita, mesmo quando eu não acredito.
Antes de voltar a minha casa
velha, eu ainda gritei, mais uma vez, despudoradamente, para o Universo:
- Há alguém?
E emudeci. Emudeci completamente: do meu coração à voz. E ainda estou à espera da voz que me responda Sim.
- Há alguém?
E emudeci. Emudeci completamente: do meu coração à voz. E ainda estou à espera da voz que me responda Sim.
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