Como o silêncio noturno torna-se atormentador quando não se
tem uma voz acolhedora ao seu lado. A solidão, companheira fiel dos amantes,
manda suas lembranças no desenrolar noturno. Estado febril ao qual cheguei.
Contemplei a imensidão, à busca de um caminho. Mas nada encontrei. Senti apenas
o soar lânguido do meu coração, enaltecendo o caminho desolado no qual estou
seguindo. Triste! Como é fácil e simples escrever sobre a tristeza, pois a
sentimos. Nós amantes, não conseguimos escrever sobre a felicidade, pois a
felicidade é um sentimento que vivemos, poucas vezes, mas vivemos. Fazemos
desse sentimento tênue uma eterna biblioteca mental. O sentimento desfaleceu, a
felicidade esvaiu-se; e o que restou? A tortura! Buscamos nas prateleiras o
livro da felicidade e não o encontramos. Por quê? Porque estávamos vivendo e
quem vive guarda a felicidade no âmago da alma. Escrevemos baixinho sobre a
felicidade, motivo pelo qual é assombroso percorrer a nossa estrada da memória.
Um deslize e estamos no inferno desolado da saudade.
Quantas e quantas vezes eu tentei me libertar,
- O amor não estava no ar.
Quantas e quantas vezes eu tentei sair,
- O amor não estava no elixir.
Quantas e quantas vezes eu tentei dormir,
- Mas o amor estava por florir.
Quantas e quantas vezes eu tentei acordar.
- Eu tinha me esquecido de como amar.
O dia começa a
desenhar-se. A aurora trará um novo dia com as mesmas angústias do dia
anterior. E eu, de erros em erros vou construindo minha canoa para navegar nesse
mar desolado e impiedoso. Entre estas linhas tortas existe uma alma aturdida
pela saudade de amar. Talvez eu não saiba amar. Ou talvez eu ame em demasia o
destino – límpido ou pútrido. Mas o que é um destino para uma existência
demasiada solitária? Meu coração está ferido. Sangra em demasia. Um sangue
triste que implora por uma dose anestésica. Eu imploro por um anestésico intravenoso. Eu imploro!
Últimos versos que ferem meu coração
Acendi meu último cigarro:
Bem-vinda, Solidão.
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