terça-feira, 16 de julho de 2013

Instante

Gostaria de lhe ajudar. De lhe entregar mais alguns minutos. Mais alguns fiapos de liberdade. Pensava ao olhar aquela cena que concluía-se pelos meus olhos. Era tarde, tarde demais. Estava observando-a a alguns minutos. Suas últimas lembranças eram minhas. Tão sem força, ainda buscava a libertinagem. Uma vez. Somente mais uma vez.

Não sei como ela chegou ali, apenas a encontrei singelamente debruçada no asfalto frio e desprovido de ternura. Ainda sem respostas, as asas tentavam se desprender novamente do casulo. O casulo que agora se encaminhava à sentença. As memórias que lentamente adormeciam.

Afinal, o que somos além de memórias? Memórias em suas dualidades desequilibradas, que por si só, não possuem conjugação. Memórias rasas que são encaminhadas para o "nunca mais" sem passagem de volta, sem opção de reavivamento. Memórias de algo jamais regenerado.

Um vento frio percorreu meu corpo, trazendo-me para a cena atual. E lá se concluía apenas o asfalto consternado. Meus olhos não a encontravam mais. A jovial borboleta, havia sido levada pelo vento. Para o último voo, rumo aos mistérios da eternidade. O alçar categórico de sua sentença, lhe permitiu o fiapo de liberdade que almejei. Não havia nada além da ínfima recordação, daquilo que em um breve instante existiu.

Um instante, que se eternizou em minha realidade.
Um instante, onde uma pequena existência adormeceu.
Um instante – agora – jamais regenerado, jamais reavivado. Somente uma vez, para nunca mais.


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