segunda-feira, 15 de julho de 2013

Mistério celeste

Era noite de inverno, fazia frio e como de praxe seu coração estava vazio. 
Isso não era necessariamente ruim, um coração vazio nem sempre é sinônimo de sofrimento. O que a incomodava era estar vazia, sabendo que podia transbordar. No entanto tudo que transbordava dela era um vazio imenso que ocupava todo o seu interior.
Sentia-se em paz, mas angustiada ao mesmo tempo. Ela sempre fora um mar de contradições incompreensíveis.
E foi naquela noite fria de inverno que ela se viu sob um singelo teto de madeira, ouvindo canções que invadiam sua alma e preenchiam qualquer vazio existente, que ela sentiu seu coração transbordar pela primeira vez naquela estação. O clima era frio, mas seu coração estava em chamas, ardendo como nunca antes. Era o amor mais belo que ali habitava, um amor que ia além daquele explanado pelos poetas, um amor ainda maior do que aquele dramatizado pelos românticos, um amor que acolhia, preenchia, aquecia. Um amor que abraçava a alma e beijava o coração.
Naqueles instantes em que transbordava, ela abandonou a razão e se permitiu apenas o sentir. Fechou seus olhos e apreciou cada segundo de ardência, até sentir-se plenamente em paz. E de repente sentiu que em sua alma asas se abriam e ela podia jurar que estava voando. Ela flutuava.
Levantou-se e caminhou para fora. De repente o singelo teto de madeira deu lugar a imensidão celeste. 
Ela ficou parada por alguns minutos absorvendo toda a magia que havia vivenciado a poucos instantes. 
Quando se permitiu voltar a realidade olhou para o céu. O mesmo céu que ontem estava enegrecido sem nenhuma cor ou iluminação, naquele momento estava encoberto de estrelas, e a lua minguante pendurada na escuridão iluminava toda aquela noite com seu brilho prateado. A lua parecia uma virgula em meio a todas aquelas mensagens ocultas que a imensidão transmitia. Escritos que não podiam ser lidos por meros olhos humanos. Escritos que só podiam ser sentidos pelo coração. A lua harmonizava a melodia das mensagens, enquanto as inúmeras estrelas faziam daquele livro celeste algo infinito. As estrelas serviam como reticências.
E naquele momento ela sentiu que seu coração podia facilmente ser um capítulo daquele livro imenso, pois ela sentia que a paz que a habitava naquele momento era como a lua que servia de virgula e harmonizava o céu. E a euforia mágica que ali se espalhava eram como as estrelas: reticências que não permitiam que o ponto final fosse escrito dando fim aquela linda história.

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