quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Sem título

Creio que meu coração seja realmente arredio.  Como Cecília Meireles salientou, A vida só é possível reinventada. Eu a reinventei, de uma maneira estranha: busquei na solidão às respostas as minhas irrequietas perguntas. Nunca a cessaram. Mas eu encontrei, neste mar bravo e caótico, navegando sozinho, uma serena resposta. 

Há tempos que eu estou a escrever-lhe – mesmo sem a tua chegada -, pois eu sei, com todos os meus cânticos despudorados, não tardas a cruzar a minha estrada. Quiçá, estejas na mesma busca: a liberdade plena através do amor. 

Tantas foram os desmaios da tarde: contemplando, sozinho, a beleza do Universo. Tantas palavras foram vomitadas, entre elas, sempre havia a ‘solidão’. Escrevi tanto sobre o amor, sentindo a ausência do ato de amar. Cantarolei saudades que ainda não chegaram. 

E Saramago tinha toda a razão quando falou, desvergonhado, à câmera, que sempre chegamos ao sítio que nos esperam. O meu sítio é o teu coração, bem-amada, e eu o penetrei: com mala e cuia. E quero aproveitar, sugar todo amor que habita teu engrandecido coração, para que o Adeus seja menos dolorido, que as lágrimas valem a pena serem derramadas. 

Eu navegava, navegada, navegava, e a cada dobra do Universo eu não a encontrava. Decidi parar, ancorar meu navio. Neste ponto, após alguns entardecer, eu a encontrei, caminhando absorta, pensativa. Pensei comigo, Será que ela tem as mesmas, ou talvez, algumas, das mesmas inquietações que perambulam pela minha mente. 

Eu encontrei a serena resposta. As tuas irrequietas perguntas completam as minhas tormentas. Versa-vice. O amor não é, em todas os momentos que estamos juntos, acalentar um coração. É colocá-lo no êxtase mais profundo que a vida pode dar: as perguntas para a emancipação, a incerteza das respostas. 

Bem-amada, lembro-me do momento no qual eu estagnei na estrada, estendi meus braços ao Universo e a vi chegando, lentamente, com os mesmos cânticos despudorados. Teus braços me cerziram; meus beijos lhe completaram; nossos coitos indecorosos florescia um novo jardim: nascia uma nova história. 

Esta pequena e inquieta carta fora escrita antes de tu chegares e entregues quando tu partires. A história, por mais triste que seja a metamorfose da entrega à despedida, tem que ser aproveitava em todos os bilionésimos de segundos que o Universo nos proporciona. Os momentos prevalecerão: ganhamos a sabedoria e a liberdade que é deixar aqueles que nós amamos continuar a tua história. Bem-amada, tenho a liberdade de invocar Nós e dizer-lhe que sugamos, em todos os momentos nos quais passamos juntos, e mesmo nas ausências que nos trouxeram à reconciliação, que sugamos o tutano mais profundo que nos habita: a liberdade do amor. 


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