segunda-feira, 29 de julho de 2013

Do alto da pedra

Era manhã de Julho e eu estava ali, na cidade maravilhosa, de frente para a praia mais conhecida do Brasil. 
Já tinha passado por Drummond e pedido alguns conselhos. Já tinha passado por Caymmi e ouvido ele tocar em minha imaginação.
Apegada aos detalhes fui caminhando e me apaixonando por cada pequeno encanto que passava por meus olhos. É que ali o nada se tornava tudo.
Prossegui guiando meus passos para frente, até de longe enxergar aquelas pedras. Fui subindo até chegar no alto do Arpoador, sentei-me ali e fiquei a espera de assistir ao mais lindo espetáculo que o Sol estava preparando.
O horizonte ainda estava escuro, apenas a Lua iluminava as águas a minha frente e o meu coração estava tomado pela mais deliciosa ansiedade. Naquele momento eu me permiti ser platéia da maior Estrela do mundo. Fechei meus olhos e agradeci a vida por me permitir vivenciar um verdadeiro e lindo sonho. Parecia que eu tinha vivido para ver aquele momento. Abri meus olhos e o horizonte ia clareando a cada minuto que se passava, até que de repente eu vi a luz ardente crescer de uma forma inimaginavelmente incrível. A bola de fogo iluminava todo o meu foco de visão, ia rasgando o horizonte a minha frente. A imensidão marítima e celeste já não estava mais tomada pela escuridão. E foi ali, do alto daquela pedra que eu vi o Sol nascer pela primeira vez rente aos meus olhos no horizonte. Mantive meus olhos bem abertos, mas silenciei minha mente. Abri uma nova caixinha de sentimentos em meu coração e ali depositei cada sensação que estava me tomando. Senti-me completa, renovada e só então percebi que junto com o Sol também estava nascendo uma nova menina dentro de mim. Uma menina de alma iluminada, de coração ardente, um menina com o interior ensolarado. Eu que sempre fui preenchida com a frieza e tristeza do cinza, finalmente tinha encontrado a mais bela e forte luz. 
Olhei para o céu e pedi à Deus que ouvisse todos os sonhos que estavam crescendo dentro daquele meu coração eternamente apaixonado pela vida. Entreguei-me àquele momento, porque ali eu deixei de ser incompreendida, incompleta, inconstante, invisível.  Aquele lugar me compreendia, me completava, me enxergava. Eu queria permanecer ali para sempre, e esse sentimento, eu sabia, seria constante até o último instante da minha existência. Novamente fechei meus olhos, e nesse momento tudo que me vinha em mente era aquele certo alguém, tudo que meu coração desejava era que aquele alguém estivesse ao meu lado, tudo que minha alma bradava era o nome dele. Com as mãos no peito eu pedi mentalmente a Deus que, algum dia, me permitisse estar no alto daquela pedra novamente para ver aquela cena de novo, mas dessa vez com aquele alguém ao meu lado. Depositei todas as minhas preces no Sol que nascia, no céu que se iluminava, nas águas que dançavam, e eu sabia que lá de cima Deus aplaudia sua natureza e conspirava a favor desse meu novo sentimento. Eu sabia que assim como Ele criou o Sol, o céu, a terra e as águas, era Ele também que tinha plantado no meu coração aquela nova semente do amor. 
Contive as lágrimas que ardiam e sorri, porque naquele instante eu tive a certeza que, um dia, eu estaria naquele lugar novamente. Deixei meu coração naquele horizonte com a convicção de que, mais cedo ou mais tarde, eu voltaria para buscá-lo. (Dessa vez para entregá-lo àquele alguém que estaria ao meu lado.)

Um comentário:

Anônimo disse...

Essa cena de cinema, eu contemplei à distância em silencio. Foi mais que o nascer do Sol, foi o desabrochar da certeza de que ali surgia uma mulher forte e sublime ao mesmo tempo, como aquela paisagem onde o mar ressoa nas pedras do Arpoador e o Sol se junta a Lua para ver tão lindo espetáculo. Assim foi o encontro da menina com a mulher. Forte e sublime.